Transexual enfrentam o desafio diário de ‘sobreviver’ a uma sociedade intolerante
Ser expulsos de casa, rejeitados pela própria família, sofrer violência e viver à margem da sociedade. Esta é a difícil realidade de muitas pessoas que compõem o grupo LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais). Mas segundo a chefe do Núcleo de Articulação e Proteção aos Direitos de LBGTI da Secretaria de Estado de Assistência e do Desenvolvimento Social (Seas), Vanessa Diniz, da sociedade LGBTI, as mulheres trans são as que mais sofrem preconceito.
Ela explica os fatores que fazem com que o ‘‘peso’’ maior da rejeição social recaia sobre esse grupo. ‘‘A discriminação em relação ao gênero é maior do que a sexualidade. A mulher trans é aquela que não se identifica com o sexo que ela nasceu, então ela precisa ter toda uma mudança em seu corpo para que se aceite. Só que ela se depara com uma sociedade que a discrimina’’.
A cabeleireira Afisya Dion, 33 anos, conheceu a face mais cruel do ser humano por ser uma mulher trans. ‘‘Fui criada como menino, mas quando atingi meus 17 anos mudei minhas vestimentas, e deixei meu cabelo crescer’’, conta. No entanto, o preconceito começou muito antes, ainda na infância.
‘‘Eu tinha uns 9 anos de idade e estava pulando elástico com minhas amigas e começaram os xingamentos. Na época não entendia, e até brigava porque não via motivo para aquelas ofensas, afinal, não estava fazendo mal a nenhuma outra criança. Estava apenas brincando’’.
Esse era só o início de uma série de violência gerada pela intolerância à diversidade. ‘‘Levava pedradas no meio da rua, no caminho da escola para casa. Sofri dois estupros com arma apontada na minha cabeça. Nenhum ser humano merece passar por esta situação. É preciso aprender com a história de Maria Madalena, se nem Deus a condenou, quem é o ser humano para julgar pessoas como eu, ou pela cor da pele ou poder aquisitivo?’’, questiona.
Afysia esclarece a diferença entre mulheres trans e travestis. ‘‘As mulheres trans são aqueles que nascem com o sexo masculino, mas sem identificam assim. Por mais que tenham o órgão genital masculino, elas se comportam como mulheres 24 horas e assim se sentem, enquanto o travesti é aquele que em algumas ocasiões se transveste de mulher’’.
ALERTA
O preconceito contra as transexuais tem se manifestado de forma cada vez mais trágica. ‘‘No Brasil, a média de vida das trans é de 35 anos’’, disse a chefe do Núcleo de Articulação e Proteção aos Direitos de LBGTI da Seas, o que acende o sinal de alerta para uma sociedade intolerante e sem respeito ao ser humano. ‘‘Entre as denúncias mais comuns que recebemos, está o relato de violência doméstica, falta de oportunidade no mercado de trabalho e o fato de não ter um lugar para morar’’, citou.
‘‘Nem todo mundo tem uma cabeça equilibrada para nos entender. Eu acredito que o preconceito é consequência da própria ignorância, não só da parte religiosa, mas também uma questão machista. E isso faz com que tenhamos que enfrentar uma série de obstáculos’’, ponderou Afysia, que concluiu o Ensino Médio se capacitou para exercer a profissão de cabeleireira.
‘‘Essas ações do governo são um passo importante para que ocorram a aceitação e o cumprimento das leis existentes. Cada vez que o governo abre as portas, dá oportunidade e valoriza o Núcleo de Articulação e Proteção aos Direitos de LBGTI, e nos ajuda no enfrentamento ao preconceito” – Afisya Dion, cabeleireira
Mesmo tendo um bom currículo, nem sempre as portas de emprego estão abertas para este grupo. “Nem todos nos olham com bons olhos. Geralmente têm uma visão distorcida de que somos pessoas sem caráter e depravadas. Existem pessoas assim entre mulheres e homens também, mas só se foca no público LGBTI e generaliza’’, avalia.
INCLUSÃO
Excluídas da sociedade, sobram poucas opções para sobreviver. ‘‘Muitas trans não conseguem estudar porque sofrem bullying na escola ou por serem expulsas de casa cedo, e é muito difícil conseguir a inclusão de uma trans no mercado de trabalho. Algumas acabam por se prostituir’’ , lamentou Vanessa Diniz, da Seas.
Para ajudar na inclusão delas, o Núcleo da Seas planeja executar um projeto para capacitação e inclusão de mulheres trans no mercado de trabalho. Mas a chefe do Núcleo reconhece que ainda há um longo caminho a se percorrer para que as mulheres trans tenham acesso a uma vida digna, sem discriminação.
‘‘O desafio começa dentro de casa, com a aceitação da família, a aceitação na sociedade, por isso promovemos palestras sobre o tema para que a população se sensibilize em relação às mulheres trans. Ainda existe uma resistência cultural e até religiosa. As pessoas querem elas bem longe. O Núcleo tem uma missão muito difícil, mas gratificante quando se consegue romper as barreiras’’, justificou Vanessa.
SENSIBILIZAÇÃO
Em Rondônia, ações são devolvidas para promover um olhar mais humano em relação às transexuais. ‘‘A Coordenação Estadual dos Direitos Humanos e o Núcleo de Articulação e Proteção aos Direitos de LBGTI vêm fazendo planejamento de ações para orientação e visibilidade das trans. A última ação ocorreu em janeiro, na praça Aluízio Ferreira, com palestras orientadores e educativas’’, lembrou.
Na ocasião, houve a apresentação cultural de mulheres trans, e a receptividade do público foi considerada positiva. ‘‘O objetivo foi alcançado, pois ao final do espetáculo o público não só aplaudiu, mas também pediu para tirar fotos com as trans. Um gesto que representa muito em uma sociedade que ainda impõe barreiras para as transexuais. Porém, é preciso que muito mais seja feito para derrubar as barreiras do preconceito e do desrespeito à diversidade sexual”, argumentou.
‘‘O desafio começa dentro de casa, com a aceitação da família, a aceitação na sociedade” – Vanessa Diniz, da Seas
De acordo com a chefe do Núcleo de Articulação e Proteção aos Direitos de LBGTI, está programado para 17 de maio, data em que se comemora o Dia Internacional contra a Homofobia, o 1º Simpósio Estadual para discutir gênero e sexualidade com todas as esferas da sociedade. ‘‘Vamos discutir durante o simpósio a importância da discussão homoafetiva nas escolas. Isso não é um incentivo, é uma forma de ensinar o aluno a ser cidadão e respeitar as diferenças. Também será criada uma Comissão de Trabalho para implantação do Conselho Estadual de Proteção aos Direitos da Diversidade Sexual”, adiantou.
‘‘Essas ações do governo são um passo importante para que ocorra a aceitação e o cumprimento das leis existentes. Cada vez que o governo abre as portas, dá oportunidade e valoriza o Núcleo de Articulação e Proteção aos Direitos de LBGTI, nos ajuda no enfrentamento ao preconceito. Todos os dias, quando saímos de casa, olhamos para o céu e agradecemos a Deus por mais um dia de vida, a gente vai enfrentar as ofensas e muitas vezes as agressões físicas’’, ressaltou Afysia.
Nesta semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, Afysia propõe a reflexão para que a sociedade reconheça as trans como mulheres e dê a elas a chance de uma vida digna. “Até onde vai o seu respeito pelo ser humano? Penso que se hoje as pessoas estão se matando, e as famílias se destruindo, é porque não existe amor primeiramente a Deus e ao ser humano’’, observou.
Fonte: Portal de Rondonia
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