Dólar bate R$ 6,17 mesmo após leilão de US$ 1,272 bilhão feito pelo BC



Banco Central fez nova intervenção no mercado nesta terça, mas moeda segue em disparada; investidores avaliam ata do Copom, que indica nova alta dos juros em 2025

 

Após atingir o seu recorde nominal na segunda-feira (16), o dólar abriu em alta nesta terça-feira (17) e bateu R$ 6,176, na máxima do dia. Às 11h27, a moeda norte-americana disparava 1,33%, cotada a R$ 6,172, com investidores avaliando a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), que indica alta dos juros para 2025.

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Com a disparada da moeda, o BC (Banco Central) realizou, nesta terça, a sexta ação em menos de uma semana para conter a subida. A autoridade vendeu US$ 1,272 bilhão em leilão extraordinário.

Trata-se de uma intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio. Na prática, é uma injeção de dólares no mercado como forma de atenuar disfuncionalidades nas negociações e diminuir a cotação, seguindo a lei da oferta e demanda.

O BC já havia realizado cinco leilões de câmbio desde a semana passada. Foram vendidos US$ 2,48 bilhões de dólares em operações à vista e outros US$ 7 bilhões na modalidade em linha, com o compromisso de recompra em prazo determinado.

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No entanto, as intervenções da autoridade monetária não conseguiram conter alta da divisa americana. O real foi a moeda que mais se desvalorizou entre as moedas dos países emergentes e entre as principais moedas do mundo nesta segunda.

Já a Bolsa avançava, com variação positiva de 0,45%, aos 124.126 pontos, às 11h27.

Analistas consultados pela Folha avaliam que a alta do dólar persiste devido às incertezas fiscais e à falta de confiança dos investidores na condução econômica do governo brasileiro.

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No cenário interno, os investidores avaliam a ata do Copom do BC, divulgada nesta manhã, que aponta que a piora da inflação de curto e médio prazo exigiu postura mais tempestiva e o cenário se tornou mais adverso com a materialização de riscos.

Na última quarta (11), em seu último encontro de 2024, o Copom elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano.

O comitê prevê um aumento de juros de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025.

Se o cenário se concretizar, a Selic chegará ao patamar de 14,25% ao ano –pico da taxa básica na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

No mercado exterior, os investidores aguardam a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre a taxa de juros do país, que será divulgada nesta quarta-feira (18). Os mercados esperando uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros.

Na segunda, o dólar fechou no maior valor nominal da história, encerrando o pregão com disparada de 1,03%, cotado a R$ 6,09. Já a Bolsa fechou com forte queda de 0,84%, aos 123.560 pontos.

Ainda que o valor de R$ 6,09 seja recorde na base nominal —a que desconsidera a inflação do cálculo—, a maior cotação real foi atingida em setembro de 2002, na esteira da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Corrigido pela inflação, o valor do dólar naquela ocasião seria hoje o correspondente a R$ 8,75.

A conta, feito pela consultoria Elos Ayta, considera a cotação da Ptax —a taxa de câmbio calculada pelo BC (Banco Central)— e ajustes pela inflação brasileira (IPCA) e norte-americana (CPI) até novembro de 2024.

Apesar das intervenções do BC com leilões, para os especialistas, os problemas estruturais, como a ausência de um plano fiscal robusto e consistente, continuam alimentando a pressão sobre o câmbio.

"O dólar segue subindo porque as incertezas fiscais e monetárias no Brasil, exacerbadas pelas críticas do governo à política de juros e pela falta de um pacote fiscal robusto, estão gerando desconfiança entre os investidores", afirma Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos.

Rodrigo Miotto, gerente de câmbio da Nippur Finance, explica que os leilões do BC têm efeito de curto prazo, ajudando a conter a volatilidade, mas não são suficientes para resolver problemas econômicos estruturais. "É um remédio apenas para tratar o sintoma, mas não a causa da dor."

Entre os principais obstáculos na tramitação do pacote fiscal estão a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) das articulações, à medida que se recupera de uma cirurgia em São Paulo, e a questão do pagamento de emendas parlamentares, com investidores apostando que ambos devem travar as medidas.

"Atualmente, o que fortalece tendência de valorização da moeda norte-americana frente ao real é a grande expectativa do mercado para a votação do pacote de corte de gastos", disse João Duarte, sócio da One Investimentos.

Apesar de o BC não ter dito o motivo dos leilões, eles ocorrem em meio à crescente desvalorização do real, com o dólar fechando acima de R$ 6 na maior parte das sessões deste mês em meio à reação negativa do mercado ao duplo anúncio do governo de um pacote fiscal e de uma reforma do Imposto de Renda.

"O Brasil conta com reservas cambiais adequadas ao seu nível de risco, mas utilizá-las de forma indiscriminada para conter o câmbio pode gerar um efeito artificial e temporário. Sem ajustes estruturais, como uma política fiscal consistente, as intervenções no mercado cambial serão ineficazes e o dólar continuará pressionado", afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Ao fim de novembro, o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o BC interviria apenas se houvesse disfuncionalidades no mercado cambial.

"O câmbio flutuante é uma ferramenta muito importante dentro do que é a matriz da política econômica brasileira para poder absorver choques como esse que estamos assistindo. O Banco Central está sempre acompanhando para entender se existe algum tipo de disfuncionalidade, mas não mira qualquer tipo de nível de câmbio", disse à época.

Operadores afirmam que o leilão foi necessário para driblar a falta de dólares no país, comum nesta época do ano devido a remessas de dinheiro de empresas estrangeiras para as matrizes.

Os bancos estão com aproximadamente US$ 30 bilhões em caixa, segundo dados da Bloomberg, um valor relativamente baixo. Em setembro, por exemplo, o saldo era de US$ 50,6 bilhões.

Geralmente, com o dólar alto e poucos recursos em caixa, bancos relatam a dificuldade ao Banco Central, que faz a venda de dólares à vista.

(folha de s. paulo)

 



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