
Redação, 12/06/2025 - O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), deflagrou nesta quinta-feira (12/6) a Operação Coringa, que mira um suposto esquema bilionário de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de cartel dentro da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). A ofensiva investiga o desvio de R$ 316 milhões dos cofres públicos e resultou no cumprimento de 26 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e no Piauí.
Durante a operação, os promotores encontraram cerca de R$ 1 milhão em espécie escondido dentro de uma caixa de papelão no supermercado “O De Casa”, de propriedade da família de Francisco José da Costa, o “Chiquinho”, ex-diretor financeiro da Novacap e apontado como líder do esquema.
Corrupção enraizada e propina organizada
Segundo o MP, o grupo atuou entre 2021 e 2022 para beneficiar empresas em contratos com o Governo do Distrito Federal em troca de propina equivalente a 2% do valor pago. O esquema envolvia o uso de empresas de fachada, concorrência simulada e movimentações financeiras fraudulentas por meio de contas bancárias de familiares e terceiros.
Chiquinho, já réu na Operação Alta Conexão, de 2022, continuava exercendo influência na estatal mesmo após ser formalmente denunciado. Estima-se que ele tenha recebido ao menos R$ 2,2 milhões em vantagens indevidas.
Funcionários públicos e empresas cúmplices
A investigação identificou a participação ativa de servidores da Novacap, incluindo:
- Eliane Bonifácio de Moraes Soares, chefe da Tesouraria, que teria atuado como “caixa automático” do esquema, recebendo R$ 161 mil;
- Renato Sousa Santanna, beneficiado com R$ 50 mil;
- Sosthenes Oliveira da Paz, que teria recebido R$ 19,5 mil;
- Aurélio Rodrigues de Castro, dono da empresa DM & Castro Engenharia EIRELI, que teria recebido R$ 69 mil por meio de nota fiscal falsa.
As irmãs de Chiquinho — Emilene Ferreira da Costa e Maria Emília Neta do Nascimento — também teriam emprestado suas contas bancárias para movimentações ilícitas, somando R$ 935 mil.
Cartel empresarial e contratos fraudulentos
O MP identificou um cartel disfarçado de concorrência, no qual empresas se alternavam para vencer licitações previamente combinadas. As principais beneficiadas foram:
- Central Engenharia e Construtora Ltda
- Construteq Construções e Serviços Ltda
- GW Construções e Incorporações Ltda
- EB Infra Construções Ltda
- WF Construções e Incorporações Ltda
- Construtora Artec
- Belavia Comércio e Construções Ltda
- NG Engenharia
- Sigma Incorporações e Construções EIRELI
- LAN Empreendimentos e Construções EIRELI
Juntas, essas empresas movimentaram R$ 316 milhões, com R$ 112 milhões liberados diretamente com interferência de Chiquinho.
Lavagem de dinheiro via supermercado
A lavagem do dinheiro obtido no esquema também passava pelo supermercado “O De Casa”, controlado pela esposa de Chiquinho, Maria Bernadete. O local era usado como canal para movimentar valores em espécie e mascarar a origem ilícita do dinheiro.
Medidas judiciais e próximos passos
Com a operação, a Justiça determinou:
- Afastamento de Francisco José da função pública;
- Bloqueio de bens móveis e imóveis dos investigados;
- Congelamento de cerca de R$ 1 milhão em contas bancárias;
- Apreensão de uma aeronave e uma embarcação pertencentes ao grupo.
As investigações seguem em curso, com foco na desarticulação do cartel empresarial, apuração das conexões entre servidores e empresários e responsabilização dos envolvidos.
O que diz a Novacap
Em nota, a Novacap confirmou que foi alvo de busca e apreensão e que documentos, computadores e um pen-drive foram recolhidos no setor financeiro. A companhia afirmou que não tem acesso ao conteúdo da investigação, por correr em segredo de Justiça, mas garantiu colaboração integral com as autoridades e reafirmou o compromisso com a transparência.
Fonte: noticiastudoaqui.com