Lula, que tem andado há tanto tempo no poder em muitas más companhias, dentro e fora do país, também me deu a impressão de que não acredita na própria biografia, senão teria preservado alguma parte dela.
Luiz Inácio Lula da Silva engatou o discurso “nós contra eles” com a história do aumento do IOF, mentiu ao dizer que o governo Lula 3 faz ajuste tributário colocando o Leão no pescoço dos ricos, e depois da mãozinha dada pelo bolsonarismo e por Trump a seu governo errante anda explorando a toda essa velha estratégia maniqueísta do PT. Bem contra o mal, pobre contra rico, branco contra preto etc.
A dureza da vida é que nesse jogo dualista não cabe mais ética contra a corrupção na política, e tudo o mais a cada dia se revela uma discurseira modorrenta e falida. Aquele ratinho das campanhas do PT reverberando “xô corrupção” se instalou de vez nas estruturas de poder com o partido no governo, que conspurcou instituições a partir do Mensalão, para nunca mais sair. No lugar do presidencialismo de coalizão, vigora o presidencialismo de cooptação.
Lula se esforça em continuar na lenga-lenga de um populista perdido no mundo analógico, que sequer usa celular, atrelado a um séquito de puxa sacos que o visitavam em Curitiba, produzindo políticas públicas e frases feitas de vinte anos atrás. E, quando encontra eleitor que o acolhe no exercício da abominável estratégia do nós contra eles, o céu é o limite.
Na periferia de Osasco, nesta sexta-feira, 25, ele criticou eleitores pobres. “O que leva uma pessoa da periferia a votar num rico? É colocar raposa no galinheiro”, disse o petista.
Milionário, seguiu a estratégia dizendo que o pobre tem de abandonar a ideia de que vota no prefeito rico porque assim ele não vai roubar, já é rico. E acrescenta: “Ora, ele só é rico porque já roubou.”
Me pareceu que o outrora pobre Lula inconscientemente falou de si próprio, e segue desafiando a plateia a não se dar conta de que o aparato que o emoldura, no mínimo vinte mil reais da camisa aos pés, sem repetição estética no dia a dia, naturalmente, dificilmente é possível só com o salário de presidente pai dos pobres.
Lula, que tem andado há tanto tempo no poder em muitas más companhias, dentro e fora do país, também me deu a impressão de que não acredita na própria biografia, senão teria preservado alguma parte dela.
De menino desprovido de tudo, ex-sindicalista, deputado, presidente terceira vez e um generoso bon-vivant com os capitalistas empreiteiros, nas palavras do amigão Emilio Odebrecht, até conseguir declarar bens que somam R$ 7,4 milhões na campanha de 2022, Lula é sucesso. Faz parte do seleto grupo, tome nota, de 433 mil brasileiros que tem fortuna superior a US$ 1 milhão de dólares.
É o maior montante de ricaços da América Latina. Pena que o levantamento em 56 países, divulgado em junho pelo banco suíço UBS, especializado na gestão de patrimônio de alta renda, não traga esses números estratificados. Quantos deles são políticos como Lula?
Quantos deles empreenderam uma cruzada “a favor dos pobres” por mais de 18 anos de poder, e nada fizeram de verdade, estruturalmente, para tirar o Brasil do rótulo criminoso de mais desigual entre as 56 nações pesquisadas?
O nós contra eles é uma estratégia endiabrada para nada resolver no país das oportunidades perdidas, a não ser garantir a hegemonia de poder do petismo. Promove retórica falaciosa, como agora em Osasco, para satisfazer apetite eleitoral em primeiro lugar.
Além de dividir o país, na crítica ao pobre que vota no político rico, implicitamente Lula diz que ser rico é atributo moralmente indefensável para se apresentar numa eleição a fim de servir à população, embora não ignore que a Constituição não proíbe candidaturas abastadas ou remediadas.
Para Lula, só os nascidos da pobreza, como ele, têm elevação moral superior e predestinados para exercer o poder, mesmo que soterrem princípios, trafiquem influência e participem de saques à nação.
Fonte: Maraparaguassu