Reunião ocorreu no domingo, 26, e foco principal era negociação das tarifas impostas pelo governo americano

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump tiveram a primeira reunião oficial na manhã de domingo, 26. O foco principal era chegar a um acordo sobre o tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil.
Veja abaixo perguntas e respostas sobre o encontro e desdobramentos dele:
Onde os presidentes se encontraram?
Planejado com discrição e cuidados, o encontro ocorreu em Kuala Lumpur, na Malásia, onde ambos participaram como convidados da 47ª Cúpula de Líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Eles se reuniram no final da tarde de domingo, 26, às 15h30, pelo fuso horário da Malásia, madrugada no Brasil, às 4h30.

Quantos encontros ocorreram?
Lula e Trump tiveram uma reunião. Depois dessa primeira conversa, as equipes do governo brasileiro e americano fizeram uma reunião ministerial.
Do lado brasileiro, participaram o ministro Vieira, o secretário-executivo Márcio Elias Rosa, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e o embaixador Audo Faleiro, assessor-chefe adjunto da Assessoria Especial da Presidência.
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Pelo lado americano, houve a presença do representante comercial Jamieson Greer, e do secretário de Tesouro, Scott Bessent. Rubio não apareceu. A reunião ocorreu no hotel The Ritz Carlton, local de hospedagem da delegação de Trump.
"Deveremos ter um acordo nas próximas semanas", disse Elias Rosa. "Os aspectos políticos já não estão mais na mesa, aquilo que nunca poderia ter estado. Hoje fazemos a discussão de uma acordo comercial e não de outra natureza."
Quais eram as pautas do Brasil?
Diversos assuntos foram abordados durante o encontro de domingo. Lula chegou a dizer a Trump que não havia tema proibido. O foco central era a questão das tarifas e de outras punições impostas pelo governo americano. Nesta segunda, em rápida entrevista a jornalistas, Lula resumiu os pedidos da seguinte forma:
- fim da taxação;
- fim da punição contra o ministro da Saúde, Alexandre Padilha e sua filha;
"Não foram apenas palavras, ele tem um documento sabendo o que o Brasil quer. E eu acho que vamos fazer um bom acordo". disse Lula.
O que foi conversado sobre a questão da Venezuela?
O presidente Lula entregou a Trump uma pasta vermelha com o brasão da Presidência da República e elementos da crise política e comercial, com a argumentação do Brasil sobre temas econômicos e políticos.
O documento também cita a disposição de Lula de colaborar como intermediador na crise em relação à ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela. O petista sugeriu estabelecer uma mesa de negociação com Maduro e que o Brasil esteja presente.
"Não dá para achar que tudo é resolvido na base da bala. Não é", disse o presidente.
A jornalistas, Lula relatou que introduziu o assunto por causa da preocupação com a operação militar americana no Mar do Caribe, com Forças Armadas, contra supostas embarcações de narcotraficantes, e o aval de Trump para a CIA atuar em território venezuelano.
Os americanos reagiram de forma positiva, como já havia indicado o secretário de Estado, Marco Rubio. Lula recordou que atuou em situação de crise similar durante o governo de Hugo Chávez, e citou o fato de a região ser uma zona de paz, sem conflitos bélicos.
O tarifaço foi suspenso?
Não. As reuniões na Malásia não foram suficientes para suspensão das tarifas impostas pelos EUA, como pedido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Donald Trump.
O ministro Mauro Vieira (Itamaraty) disse nesta segunda-feira, dia 27, que o governo americano concordou com uma cronograma de negociações para chegar a um acordo sobre o tarifaço contra o Brasil.
Uma nova rodada de negociações será feita, provavelmente, na próxima semana, com viagem de ministros brasileiros a Washington. Lula se dispôs a enviar Vieira, o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do MDIC, e até o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O governo brasileiro ainda espera uma contraproposta à solicitação de pausa nas tarifas. Trump terá a palavra final. A reunião desta manhã foi uma espécie de rescaldo da conversa anterior entre Lula e Trump.
O que disse o presidente Lula?
Em rápida entrevista na manhã desta segunda, 27, Lula afirmou que não esperava resolver todas as questões no curto prazo, mas que deixa a Malásia com o compromisso de avançar nas negociações e o combinado de discutir futuros problemas diretamente com o presidente americano.
"Não era possível, e nem vocês acreditavam, que em uma única conversa a gente pudesse resolver os problemas. O que nós estabelecemos é uma regra de negociação e toda vez que tiver alguma dificuldade eu vou conversar pessoalmente com ele. Ele tem meu telefone, eu tenho o telefone dele e nós vamos colocar as equipes para negociar. Minha equipe é de alto nível: É o Alckmin, o Haddad e o Mauro Viera."
O que disse o presidente Trump?
Em voo para o Japão, o presidente americano Donald Trump comentou nesta segunda-feira, a reunião com Luiz Inácio Lula da Silva e deixou em aberto a possibilidade de atender ao pedido do presidente brasileiro para rever o tarifaço.
"Tivemos uma boa reunião. Vamos ver o que acontece. Não sei se algo vai acontecer, mas vamos ver. Eles gostariam de fechar um acordo. Vamos ver, agora eles estão pagando acho que 50% de tarifa. Mas tivemos uma ótima reunião", disse Trump a jornalistas a bordo da aeronave presidencial, o Air Force One.
A condenação de Jair Bolsonaro foi abordada?
Em frente às câmeras, Donald Trump foi questionado pela imprensa sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro e respondeu apenas que "sempre gostou dele" e que se entristeceu com a condenação por golpe de Estado, porque ele "passou por muitas coisas".
Quando um jornalista insitiu para saber se trataria da condenação de Bolsonaro na conversa com Lula, Trump respondeu: "Não é da sua conta".
"Eu sempre gostei dele, fiquei muito mal com o que aconteceu com ele", respondeu o americano, sem dizer se desejava tratar do tema. "Sempre achei que ele era um cara honesto, mas ele já passou por muita coisa."
Em privado, foi Lula quem resgatou o caso do adversário e ex-presidente, para explicar que havia provas robustas e que o caso era julgado de forma independente pelo Judiciário, sendo "injustas" as punições a ministros do Supremo - como a cassação de vistos e de a Lei Magnitsky.
(terra)