
Novo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela presença de facções em 260 municípios e destaca a hegemonia do Comando Vermelho, com impactos violentos, econômicos e ambientais.

O crime organizado avança com força na Amazônia Legal, de acordo com a mais recente edição do relatório Cartografias da Violência na Amazônia, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O estudo revela que 260 municípios da região exibem registro de atividade de facções criminosas aproximadamente 33,7% do total da Amazônia Legal.

Embora a cifra citada na sua proposta (344 municípios) não esteja confirmada nas fontes mais fiáveis até o momento, os dados atuais já apontam para um cenário grave e em rápida transformação.
Expansão do Comando Vermelho e reorganização territorial
O relatório destaca a hegemonia do Comando Vermelho (CV) entre as facções atuantes na região. De acordo com a análise mais recente, dos 176 municípios com domínio de uma única facção, 130 são controlados pelo CV, seguidos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em 28 deles.

Esse crescimento não é apenas numérico, mas estratégico. A presença do CV se intensifica em rotas de tráfico, bem como em áreas de garimpo, disputas fundiárias e zonas fronteiriças ambientes onde o Estado tem menor penetração e menos capacidade de regulação.
Um ponto agravante é que o avanço das facções se sobrepõe a outras formas de violência, perpassando desde crimes ambientais até disputa por terra. O estudo afirma que o conflito por território não é apenas sobre rotas de drogas: as facções atuam também como “reguladoras” nas cadeias de mercados ilegais (garimpo, madeireira, grilagem), suprindo lacunas deixadas pelo Estado.
Impactos sociais e ambientais
Segundo pesquisadores do FBSP, a presença dessas organizações criminosas está diretamente conectada ao aumento da violência letal e das disputas territoriais. Em 2023, a Amazônia Legal registrou taxas de homicídio violentos que chegaram a 41,5% acima da média nacional, segundo o mesmo relatório.

Além do tráfico, as facções agora têm papel econômico relevante em crimes ambientais: exploração ilegal de madeira, garimpo e grilagem de terras são algumas das frentes nas quais atuam para consolidar poder local. Em muitos casos, essas atividades ilícitas alimentam uma lógica de “governança paralela”, na qual o crime organizado assume funções que deveriam ser do Estado.
Desafios para o Estado
A consolidação dessas facções levanta profundas questões sobre a capacidade institucional de controle na região amazônica. A falta de presença do Estado em muitas localidades, especialmente nas áreas rurais e de fronteira, favorece a territorialização criminosa.
Para especialistas, não basta apenas respostas pontuais: é preciso uma estratégia integrada de segurança, que combine policiamento, inteligência, políticas socioeconômicas e ambiental, para retomar o controle estatal sobre essas regiões.
Além disso, há a necessidade de cooperação entre órgãos de segurança e entidades ambientais, uma vez que os crimes das facções se entrelaçam com a destruição da floresta, grilagem e extração ilegal de recursos naturais.
Consequências para a população
A expansão do crime organizado afeta diretamente a vida de milhares de pessoas na Amazônia. Rios, vilas ribeirinhas, territórios indígenas e comunidades quilombolas estão na linha de frente dessa disputa. Conforme relatos de lideranças locais, as facções impõem regras em alguns casos rudimentares de “justiça paralela” para garantir seu controle sobre trânsito, rotas fluviais e invasão de terras.
A criminalidade também mina a confiança da população nas instituições e compromete os direitos territoriais e socioambientais. Quando o crime organizado exerce influência sobre a posse de terra ou negocia informalmente “direitos” de ocupação, as disputas se tornam mais violentas e difíceis de serem resolvidas legalmente.
Cenário futuro e urgência de atuação
A rápida expansão do Comando Vermelho e o aumento do número de municípios sob influência de facções criminosas representam uma inflexão perigosa para a Amazônia Legal. Para muitos analistas, este não é apenas um problema de segurança pública, mas uma crise sistêmica que ameaça a estabilidade social, ambiental e econômica da região.
O relatório Cartografias da Violência na Amazônia serve como um alerta claro: a escalada da atuação do crime organizado exige ação urgente e coordenada com investimento em infraestrutura institucional, políticas de desenvolvimento local e mecanismos eficazes para coibir tanto o tráfico quanto os crimes ambientais.
(rondoniaovivo)