ESTADO LETAL PARA MULHERES - Feminicídios em RO dobraram de janeiro e julho de 2025 e revelam incompetência e ineficiência do poder público
Publicidade
Rondônia registrou 17 feminicídios entre os meses de janeiro e julho de 2025, o que representa um aumento de 112% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram contabilizados 8 casos.
A capital Porto Velho lidera os números, com 6 ocorrências nesse período. Outros municípios com registros incluem Presidente Médici e Ji-Paraná (2 cada), além de casos em Mirante da Serra, Santa Luzia do Oeste, Vilhena, Buritis, Cujubim, Governador Jorge Teixeira e Itapuã do Oeste.
Cenário alarmante
Este cenário reforça uma realidade que acompanha o panorama nacional: o Brasil registrou 1.459 feminicídios em 2024, média de quase quatro mulheres assassinadas por dia, de acordo com o Mapa da Segurança Pública de 2025 do Ministério da Justiça.
Rondônia destaca-se negativamente: apresentou a maior taxa de feminicídio por 100 mil mulheres no país — 87,73 casos, superando estados como Roraima e Amapá.
Outro dado preocupante: ao menos 121 mulheres mortas nos últimos dois anos estavam sob medida protetiva; em 2024 cerca de 100 mil medidas foram descumpridas em todo o Brasil.
Histórias por trás dos números
Além dos dados, emergem relatos de violência extrema e silenciosa. Um deles é o caso de Solange Boaventura, sobrevivente de tentativa de feminicídio:
“Nas primeiras vezes foram apenas alguns empurrões, até que na última agressão ele me enforcou e me deixou desacordada.”
Outra vítima, que prefere não se identificar, revelou episódios de abuso sexual na infância por parte do avô:
“Eu tinha cinco anos e não entendia o que estava acontecendo. Ele me ameaçava… todo mundo falava ‘meu avô é maravilhoso’, mas meu avô não foi maravilhoso comigo.”
Medidas de enfrentamento e prevenção
Diante da escalada da violência, entidades e poder público intensificam ações em Rondônia:
A OAB-RO (Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Rondônia) reforçou sua atuação durante a campanha Agosto Lilás, promovendo debates, estruturação de juizados especializados e criação de ouvidoria para denúncias em bares e casas noturnas.
Segundo a conselheira Miriam Pereira Mateus, “nosso papel é garantir que as mulheres conheçam seus direitos e tenham a quem recorrer”.
A presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica da OAB-RO, Rosimar Francelino, destacou: “campanhas como o Agosto Lilás sensibilizam a sociedade e deixam claro que a violência contra a mulher é uma violação dos direitos humanos”.
A delegada regional Solângela Guimarães orienta que mulheres busquem apoio nos primeiros sinais de ameaça, destacando que há casas de acolhimento, benefícios financeiros e mecanismos para quebrar o ciclo de dependência que pode levar à violência.
Estatísticas oficiais e políticas públicas
Embora Rondônia tenha registrado uma queda de feminicídios em 2024, com redução de 26,32% em relação a 2023, os dados mais recentes mostram uma reversão preocupante da tendência.
Pesquisas como a de Okabayashi e Almeida (2025) apontam que, entre 2015 e 2024, persistem desafios estruturais: insuficiência na rede de acolhimento, falhas na implementação de medidas protetivas e dificuldades na articulação entre políticas públicas e sociedade civil.
Linha do tempo
Período
Feminicídios em RO
Comparativo ano anterior
Jan–Jul 2024
8
–
Jan–Jul 2025
17
+112%
Total no ano (2024)
–
1.459 casos no Brasil
Canais de denúncia e apoio
Em caso de violência doméstica ou risco de feminicídio, os canais disponíveis incluem:
Tribunal de Justiça-RO: (69) 3309-7105 / WhatsApp (69) 98455-3277
Considerações finais
O cenário em Rondônia reflete uma grave realidade, uma reversão de conquistas recentes no campo da segurança da mulher. Embora 2024 tenha demonstrado avanços por meio de políticas públicas eficazes, os casos de 2025 escancaram falhas persistentes no sistema de prevenção e na efetividade das medidas protetivas.
O aumento expressivo exige respostas imediatas: aprimoramento da rede de proteção, fortalecimento institucional, prevenção, acolhimento e, sobretudo, conscientização social sobre a gravidade da violência contra a mulher.