ESCRAVIDÃO, VIOLÊNCIA, PÃO E EDUCAÇÃO - Por: Arimar Souza de Sá | Notícias Tudo Aqui!

ESCRAVIDÃO, VIOLÊNCIA, PÃO E EDUCAÇÃO - Por: Arimar Souza de Sá

Compartilhe:
ColunistaArimar Souza de Sá

“A paz nega a violência, não os conflitos, que fazem parte da vida”
Paulo Freire

Ninguém se preocupou tanto com a educação versus violência como Paulo Freire. Em certa ocasião, afirmou: “no ritmo que as coisas caminham no Brasil, sem uma programação concreta de educação massiva, haverá um tempo em que os cárceres estarão tão cheios que espumarão violência.”

Para falar da educação no Brasil precisamos ir um pouco mais longe, viajar no tempo. Durante 300 anos os escravos não tiveram nenhum acesso à educação e, queiramos ou não, o nosso povoamento ainda hoje é de 53,6% de afro-brasileiros, segundo o IBGE, onde uma parte considerável ainda vive amontoada em favelas, guetos e mangues.

Esse era o “modelo Português”, que servia para manter os escravos na “sombra”, sob os horrores da chibata. Para se ter uma ideia sobre esse processo de exclusão pela alienação, na Guiné Bissau – África, após 450 anos de domínio português, apenas um negro havia concluído o curso superior em Lisboa.

Já na “Terra Brasilis”, abortou-se a tal libertação dos escravos com um decreto do imperador, assinado pela Princesa Isabel (que se denominou Lei Áurea), sem a negociação de nenhum direito, pelo Estado, de moradia, higiene, educação, transporte ou saúde aos seus supostos “beneficiários”, na verdade vítimas inocentes.

Os negros, assim, saíram das correntes de horror, nas senzalas, para os desvãos, a céu aberto, do desprezo humano. Saíram dos cárceres do feitor e do capitão do mato, para o cárcere ignominioso da fome.

As hordas de negros recém “libertos”, despreparadas para qualquer atividade urbana, foram se reunindo em mocambos, morros, palafitas e mangues, como se fossem animais soltos das jaulas.

Na verdade, a decantada alforria não passou de uma entrega de homens, mulheres e crianças à aventura das intempéries, e a fome tragou vidas, esperanças e naturalmente permitiu o aparecimento dos primeiros vestígios de violência urbana, onde os negros, famintos, passaram a delinqüir face ao infortúnio. E, vejam ainda hoje, 64% dos encarcerados são negros.

No Brasil, grandes esforços para a inserção dos negros na sociedade já foram feitos, e pode-se até dizer que já se registram ganhos significativos. A questão primeira e basilar, que gerou todas as demais, foi a forma de soltar os negros das senzalas com “educação zero”, necessidade zero, em todos os sentidos.

Para exprimir melhor o fenômeno, nos dias atuais, basta lembrar das cotas para o ingresso de negros nas universidades. Indubitavelmente, essa é uma dívida que o Brasil ainda não pagou com a sua História – mas os hipócritas dizem que a falta de educação é o único problema do Brasil.

A indústria da seca no nordeste, a fome gritante, geraram os “ciganos brasileiros”, que se alojam nas periferias das cidades e, como nômades, “sem leitura” – como dizem – transformaram-se em “soldados do asfalto”, em mercenários de uma guerra sem fim, que visa, afinal, apenas encher o bucho.

E essa infinita distância entre o Estado e o Homem é que é a causa da produção da violência, máxime após a disseminação das drogas a partir da 2ª guerra mundial.

Na verdade, homens e mulheres, agora, negros e brancos, jogados como entulhos, renascem de suas próprias cinzas para serem milícias, capitães do mundo das drogas. Creiam, ninguém se envolve com o crime por querer, posto que todos nós queremos é a paz para viver.

Meu Deus!

Como desejar uma educação massiva para aqueles que ainda trabalham para alcançar a primeira necessidade humana, que é encher barriga?

Como disse o psicólogo americano Abraham Maslow, o ser humano tem necessidades primárias.

1 – Manter-se vivo, de respirar, de comer, de descansar, beber, dormir, ter relações sexuais. Como um homem jogado ao seu próprio destino, sem comida, sem agasalho, pode sobreviver?

2 – Necessidades de Segurança
“São aquelas que estão vinculadas com as necessidades de sentir-se seguro, sem perigo e com um trabalho digno”

Os negros e seus descendentes, que foram jogados nas ruas ainda com as dores dos ferrões dos feitores, tiveram ou têm segurança?

3 – Necessidades Sociais
São necessidades de manter relações humanas com harmonia.
Deflui-se, daí, que os negros nas senzalas para os feitores eram bichos ferozes. Seus filhos eram vendidos. Não tinham direitos civis. Acasalavam-se como os animais.

Sem ambiente social, a violência se exprime como verdade, como se todos estivessem nos porões do inferno.

4 – Necessidade de Estima 
Os brutos não têm estima, eles se devoram. Como sentir-se digno “cagando” e vomitando nas ruas, sem água, sem decência e sem Deus?

5 – Necessidade de Autorrealização
Os brutos, para ser genéricos, não pensam. São devorados pela ânsia da comida e um cantinho à noite para dormir, nem que seja fedido.

Em tese, grande parte de 54,8 milhões de brasileiros, segundo o IBGE, não saíram da linha da pobreza absoluta, sem conquistas sequer das necessidades básicas, segundo Maslow. Então, como pensar em educação de qualidade, se a barriga ronca mais alto? É preciso, pois, saciar a fome primeiro, para que o homem, fortalecido, possa deglutir a educação necessária e seguir em frente.

Nesse atual ambiente, naufragado em discrepâncias sociais de dimensões absurdamente cruéis, o primeiro conselho que se daria aos donos do poder, seria a busca de inserção dos desgraçados à sociedade de consumo, como primeira etapa.

Em se considerando que os modelos atuais de ensino são razoáveis, poder-se-ia aproximar os desiguais à maneira de educar no Brasil, até que se desalojem dessa imensa Pátria as podridões geradas e localizadas nos porões dos grandes infernos (periferias das cidades) como meta governamental prioritária.

Enfim, ceife-se e dê-se um tranco no discurso egocêntrico, inflado de politicagem, de promessas vãs, e se cuide do Homem, e certamente ele cuidará da educação de seus filhos com dedicação, afinco e muito mais amor.

No mais, é apenas sofismar...
AMÉM!


 Comentários
Noticias da Semana
Dicas para te ajudar
TV Tudo Aqui