MONTEZUMA CRUZ
Entre situações possíveis, outras toleráveis, infelizmente aparecem as pavorosas. Falo do surpreendente janeiro de 2019, no que diz respeito à designação de “raposas” para tomar conta de galinheiros.
E não são galinheiros, são órgãos essenciais ao equilíbrio da natureza, ao bem-estar de nós todos, dos filhos, netos, bisnetos e tataranetos.
Neste janeiro, por rede social, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que desconhece a maioria das regiões do País onde nasceu, anunciou: o ex-deputado Valdir Colatto (MDB-SC) será o titular do Serviço Florestal Brasileiro.
Para quem não sabe, o SFB é o responsável pela gestão das reservas naturais, especialmente as florestas públicas do Brasil.
The rightman in the rightplace.
Colatto representa aquele estado de lindas praias, bons portos, alguns minérios e gente boa. Tão boa que até hoje engole naturalmente o desastre no Morro do Baú, em Ilhota, quando morreram 47 pessoas.
O Código Ambiental de Santa Catarina, elogiado por “motosserras”, foi bonzinho com derrubadores de florestas e da mata ciliar.
Seis anos atrás, o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, revelava que Santa Catarina perdera 672 hectares de mata entre 2012 e 2013.
Desde 1985, quando o levantamento começou a ser feito, Santa Catarina perdera 2.818,78 km², área superior a grandes municípios brasileiros.
Notável por liberar a caça de animais silvestres no Brasil, inclusive em unidades de conservação, seu Colatto vem aí para causar mais rebuliços. Se ele prevê e permite criação de áreas particulares de caça de animais silvestres e dá permissão a zoológicos para venda de animais a criadouros particulares, Deus nos acuda.
Bicho virando commodities, a exemplo da soja, do café, do trigo e do milho, só faltava essa...
O novo chefe do SFB assumirá o cargo no momento em que o SFB foi transferido do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura. Seu Colatto foi um dos parlamentares que mais lutaram pelo adiamento dos prazos de inscrição de propriedades de agropecuaristas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é administrado justamente por esse órgão.
Facilidades, alongamento, prolongamento de dívidas, vistas grossas com agressões ambientais em propriedades – na somatória, o pior. Miopia, aliada à irresponsabilidade.
Em termos de livre mercado ou, mais respeitosamente, de autonomia governamental, seria a mesma coisa do que ocorreu em Rondônia, quando um vagão inteiro da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré apareceu no gramado de uma mansão no Lago Paranoá. Sabe-se que o vagão não voou, mas deixou Porto Velho sobre uma carreta, com vistas grossas do governador da época.
Quem viver, verá. Já dá pra arrepiar. Ou arrepia sem dar mesmo.