O MESTRE E A REVERÊNCIA PERDIDA | Notícias Tudo Aqui!

O MESTRE E A REVERÊNCIA PERDIDA

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ColunistaArimar Souza de Sá

Hoje, eu gostaria de falar sobre o professor, cuja data festiva celebrou-se em 15 de outubro.

Para mim, todos os dias são dia dos mestres, estas figuras magistrais que trabalham diuturnamente e preenchem com suas presenças o vazio das escolas, na perambulação de suas almas, em prol de educar a humanidade.

Desde tempos perdidos no tempo, as famílias, os Estados, as nações, elegeram como forma de educação a presença do professor na sala de aula.

Na minha época, de giz na mão e olhar firme para os alunos, eis que começa a aula, quase um ritual. Os alunos, concentrados, prestavam atenção ao professor como se ele fosse uma espécie de “pater familias”.

Na sala, reinava o silêncio e ai do engraçadinho que se metesse a besta. Era mandado logo para diretoria e o pai era comunicado...

E lá se ia ele a ensinar o que era adição, subtração, multiplicação e divisão e, ao fim do 1º ano, se regozijava: “meus alunos já sabem de cor e salteado as quatros operações e mais, a maioria já sabe inclusive tirar a prova dos nove na operação de divisão”.

A professora de História, prazerosamente, ensinava aos alunos os fundamentos mais importantes da vida do País, como a descoberta do Brasil, o Dia da Independência, o da Proclamação da República, a participação do País na Guerra do Paraguai, a Lei dos Sexagenários, a Lei do Ventre livre e a Lei Áurea...

Não obstante o calor infernal dos trópicos, as crianças ouviam com atenção, e não se rebelavam em sala de aula. Naqueles tempos não havia celular e nem merenda escolar, esta quando tinha, a gente trazia na lancheira, e a atenção era total às explicações do professor.

A professora de Geografia ensinava que éramos um imenso País na América do Sul, fazendo fronteira com a Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, com as Guianas Francesa, Inglesa e Holandesa, com o Paraguai, a Argentina, o Uruguai, e sem fronteiras com o Chile e o Equador.

Falava dos nossos rios, e recordo com certo orgulho do Rio São Francisco, o rio genuinamente brasileiro. “Onde nasce o Rio São Francisco?” – perguntava ela!? E todos respondiam, em coro e animadamente: -- “Na Serra da Canastra, em Minas Gerais!”

Depois, “mergulhávamos” no Amazonas, “o maior do mundo em volume de água”, com os seus afluentes Rio Negro, Madeira, Xingu e outros.
Tudo isso para dizer que antigamente a tarefa do professor era suave e gratificante, e a prática do civismo se desenrolava harmoniosamente com o Estado, as Igrejas e a família.
Eram tempos idílicos, como se ouvia no cancioneiro popular: “vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco, num rostinho encantador (...) mas a normalista linda não pode casar ainda, só depois que se formar” – ou, em outra música, “que saudade da professorinha que me ensinou o Bê-a-Bá”.

Naquele tempo, as meninas dos cursos de Magistério, a cargo da “Escola Normal”, usavam saia “plissada”, tinham orgulho de ser “normalistas” e, depois de formadas, serem chamadas PROFESSORAS.

Todavia, nos dias que correm, vemos que essa profissão foi depredada por nefastas políticas educacionais, onde há muito trabalho e salários minguados, como já criticava o humorista Chico Anísio: ... E o salário, ó!...

Aduzindo-se: Falta de respeito dos alunos sem contar com um dos piores sistemas educacionais do mundo, levando o Brasil a cair para última posição do ranking de prestígio de docentes.
Para alarmar ainda mais, o Brasil é o país onde há o menor número de professores em sala de aula, de acordo com recente pesquisa, feita em 95 países, dentre eles a Rússia, Taiwan, Malásia e China, que aparecem no topo.

Outros dados levantados mostram que menos de um, em cada 10 brasileiros, acham que os alunos respeitam seus professores em sala de aula. Fica difícil entender que, a cada dia, pelo menos dois educadores são agredidos no Brasil.

Em Águas Lindas-GO, um professor foi morto por um aluno que havia reprovado. Aí, há de se perguntar: para onde vamos? Que país é este? – que se desviou do caminho natural, e onde o educador perdeu o protagonismo e foi colocado na vala de riscos constantes, diante de alguns alunos/marginais?

Esse naufrágio, que foi capitaneado praticamente na “era do PT”, é um rastro deletério que se reflete hoje nas escolas, posto que, não obstante o desenvolvimento cibernético, ainda não há um substituto para o professor em sala de aula.

Lembrar é preciso: o professor é o maior parceiro da família na estruturação do caráter das crianças e dos jovens. Não é apenas um “mago” de fórmulas matemáticas, de ensino de História, Português, Geografia, etc. Sua função transcende, para constituir-se, na prática, em um elo cívico entre as famílias, o Estado e a sociedade.

A desmoralização e o desmonte da estrutura secular da educação do Brasil é um crime contra a humanidade, se considerarmos que, na ausência de educação rigorosa, os homens se transformam em animais indomesticáveis, restando-lhes, em desforra da sociedade, o descaso das prisões, que se multiplicam a cada dia. E haverá um tempo em que se construirá mais penitenciárias, e não haverá homens sadios trabalhando aqui fora para sustentar as necessidades dos detentos.

Dir-se-ia: infelicitado é o país que não cuida com zelo divino de seus professores e da educação de seu povo, deixando-os à mercê da própria sorte.

Prestigiar os MESTRES significa dar-lhes a dignidade que merecem, e não, como se faz por aqui, transformá-los em meros joguetes de falsos “governantes”, que constroem prédios e mais prédios, mas esquecem dessa figura humana magistral.

O mestre, o professor, é o centro de referência e o eixo em torno do qual giram todas as profissões e, a duras penas, apesar do desprezo que tem sofrido no tempo e no espaço, ainda se anima, em sala de aula, na formação dos homens do futuro.
Saudemo-los, pois, com o respeito necessário, e resgatemos a reverência perdida, para podermos, enfim, ser o país dos sonhos de todos nós.

Amém!

*Arimar Souza de Sá é jornalista, advogado, e diretor do Rondonoticias


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