ESCALADA DO CRIME - Delegado da PC comenta “explosão” da violência que já resultou em 42 homicídios neste ano em Vilhena
Número é alarmante em comparação com a média nacional de 22,8 casos por 100 mil habitantes
Em entrevista exclusiva concedida na tarde desta terça-feira 13, o delegado titular da Delegacia de Homicídios de Vilhena abordou a preocupante escalada da violência na cidade.
Até o momento, 42 homicídios foram registrados em 2024, um número alarmante em comparação com a média nacional de 22,8 casos por 100 mil habitantes. O delegado Núbio Lopes de Oliveira destacou que a maioria desses assassinatos está relacionada a conflitos entre facções criminosas.
O delegado explicou que a violência em Vilhena é predominantemente fruto de disputas entre facções criminosas que lutam pelo controle do tráfico de drogas na região. “A maioria desses assassinatos são fruto de guerra entre as facções, tudo voltado para domínio do tráfico”, afirmou.
Ele ressaltou que, em muitos casos, não é necessário haver uma desavença pessoal para que ocorra um homicídio. A simples afiliação a facções rivais já é motivo suficiente para desencadear um assassinato. “A motivação nesses casos é até torpe, o que qualifica a pena”, explicou o delegado, referindo-se à gravidade dos crimes, que tendem a resultar em penas mais severas em caso de condenação.
O delegado apontou que a explosão dos números de homicídios este ano se deve, em parte, ao aumento da violência empregada por uma das facções. Isso gerou uma série de retaliações entre os grupos rivais, intensificando o ciclo de violência na cidade. Embora a maioria dos homicídios esteja ligada a essas disputas, o delegado mencionou que há casos pontuais de assassinatos que não estão relacionados ao conflito entre facções.
Um fator importante destacado pelo delegado foi a presença de uma penitenciária em Vilhena. Segundo ele, as rivalidades entre membros de facções muitas vezes se iniciam dentro da prisão, e quando os detentos são liberados para o regime semiaberto, essas rivalidades se intensificam nas ruas. “À medida que os indivíduos vão saindo, já tem aquela rivalidade que era conhecida desde lá de dentro, e o acerto de contas acaba acontecendo nas ruas da cidade, comentou.
O delegado enfatizou que, uma vez envolvidos no crime, os indivíduos não têm escolha a não ser permanecer nesse ambiente, o que perpetua o ciclo de violência na cidade.
Sobre as ações da Polícia Civil, o delegado afirmou que a instituição se esforça ao máximo para elucidar os homicídios e representar por prisões, mas reconhece que há limitações. “Nós sempre procuramos, no máximo esforço possível, elucidar a autoria e representar por prisões”, disse.
Ele mencionou que o ideal seria contar com a colaboração da sociedade para fornecer informações sobre crimes, mas lamenta que muitos moradores têm medo de se envolver. “Ninguém quer se comprometer. O pessoal quando nos procura vai intimidado, com medo. Eles acreditam que se falarem alguma coisa podem sofrer represálias violentas, sendo este um argumento comum para justificar tal escudo, exceto quando há violações diretas a si próprias, por exemplo, quando o crime é cometido contra alguém que eles conhecem ou seus familiares”, afirmou ao Extra de Rondônia. Essa postura, segundo Núbio, contribui para o aumento dos crimes e torna a própria sociedade mais vulnerável à violência.
O delegado foi enfático ao afirmar que uma sociedade que se cala diante da violência acaba sendo subjugada. “Não basta ter uma polícia comprometida, não basta ter uma polícia honesta”, disse, ressaltando que muitos crimes poderiam ser evitados ou solucionados se a população colaborasse mais ativamente com as investigações.
Ele destacou que, em muitos casos, os crimes são cometidos por pessoas que já haviam praticado delitos anteriormente, mas que não foram denunciadas por falta de testemunhas dispostas a colaborar. “O ideal seria o envolvimento de todos numa, entre aspas, guerra contra esse tipo de situação”, sugeriu.
Apesar das dificuldades, o delegado garantiu que a Polícia Civil continua comprometida em investigar e solucionar os homicídios em Vilhena, mesmo com a equipe reduzida na Delegacia de Homicídios. “O que eu posso assegurar é que, em que pese haver um número muito pequeno de servidores na delegacia, se tivéssemos um apoio social, eu tenho certeza que a maioria desses crimes não estaria nesse índice”, afirmou.
Ele concluiu a entrevista ressaltando a importância da colaboração da sociedade na luta contra a violência, destacando que apenas com o envolvimento de todos será possível reduzir os índices de criminalidade em Vilhena.
O delegado fez um apelo final à população de Vilhena: “Uma sociedade intolerante à violência, com todos comprometidos em colocar qualquer um que violar a lei atrás das grades, aí com certeza o pessoal ia sumir daqui.” Ele reforçou a necessidade de a sociedade se envolver mais, utilizando os recursos disponíveis, como câmeras e celulares, para registrar e denunciar crimes.
Com essa mensagem, o delegado concluiu a entrevista, deixando claro que a luta contra a violência em Vilhena depende tanto das forças de segurança quanto da participação ativa da população.
(extraderondonia)
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