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SEM VINCULAÇÃO COM ISRAEL - Sem querer, confusão na compra de obuseiros pelo Exército pode trazer benefícios para o Brasil

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O processo de compra do Exército Brasileiro (EB) de 36 obuseiros autopropulsados sobre rodas enfrenta um novo desafio: um embate no governo federal. De um lado, um dos assessores mais próximos de Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim. Do outro, o ministro da Defesa, José Mucio. Por sorte, a solução parece beneficiar a indústria brasileira.

Após decidir pelo modelo Atmos, da israelense Elbit Systems, a força terrestre foi criticada por cidadãos, parlamentares e até mesmo membros do Executivo por escolher uma artilharia ligada ao conflito que ocorre na Faixa de Gaza.

Agora, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, intercedeu junto ao presidente Lula pelo embargo da compra. "A decisão da corte internacional recomenda não colaborar com Israel nesse aspecto militar", justificou Amorim à CNN.

Para tentar destravar essa compra, o ministro da Defesa, José Mucio, interviu junto à Elbit Systems para que o obuseiro seja produzido em solo brasileiro, no Rio Grande do Sul.

Entrevistados pela Sputnik Brasil, especialistas destacaram a oportunidade de aprofundar os investimentos na Base Industrial de Defesa (BID) brasileira.

A Elbit Systems concorreu em um edital aberto do EB e venceu frente a outros modelos — como o SH-15, da chinesa Norinco, o Ceasar, da francesa Nexter, e o eslovaco Zuzana 2, da Konstrukta, representado no certame pela empresa de defesa tcheca Excalibur.

Para melhor pontuar no edital, as companhias deviam preencher requisitos que vão desde o tipo de munição usada, tempo do primeiro disparo à perspectiva de nacionalização de algum componente e transferência de tecnologia.

Conforme adiantado pela Sputnik Brasil, a proposta da Excalibur era a que mais previa transferência tecnológica para o Brasil. O modelo, contudo, não atendia a uma característica importante, mas opcional: a capacidade de ser transportado no cargueiro KC-390 da Embraer, o que pode ter pesado contra sua escolha.

"Historicamente, as Forças Armadas brasileiras sempre buscaram cooperações que envolvessem transferência tecnológica", diz Issam Menem, doutor em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (Nuprima), à Sputnik Brasil.

É o caso de grandes projetos recentes, como o caça Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB) com a sueca Saab, os submarinos Riachuelo com a Naval Group, da França, e as fragatas Tamandaré, com a alemã Thyssenkrupp.

"O desenvolvimento e a produção desse tipo de produto, que tem embutido alta tecnologia, acaba estimulando um sistema nacional de inovação e gerando empregos altamente qualificados", diz Menem. "No entanto, essa transferência de tecnologia nem sempre ocorre."

Produção nacional do Atmos pode reviver a BID

Thiago Rodrigues, professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), explica à Sputnik Brasil que o Brasil possuía uma tradição na construção de veículos militares desde a década de 1970. No entanto, com a chegada de Fernando Henrique Cardoso à presidência, ocorreu o desmonte da BID e dos demais setores industriais.

"Esse incentivo à indústria de defesa fez parte da política geral para as Forças Armadas e para a projeção de poder do Brasil na América do Sul nos primeiros governos Lula."

Hoje, o governo Lula tenta aprimorar a indústria de defesa brasileira, assim como fez em seus primeiros mandatos. Dessa forma, a vinda da produção do Atmos para o Brasil pode girar a chave para finalizar de vez esse acordo.

Hoje, o parque industrial da Defesa Nacional representa 4,80% do produto interno bruto (PIB), o que gera cerca de 3 milhões de postos de trabalho, direta e indiretamente. Entretanto, isso está longe de ser o ápice da indústria bélica brasileira. Nos anos 1970 e 1980, o Brasil chegou a ocupar o oitavo lugar mundial em exportação de produtos de defesa, diz Menem.

"Naquele período, o Brasil se destacou bastante exportando blindados, foguetes, munição, armamento leve e, posteriormente, aviões. E o benefício não é só econômico. O Brasil instrumentalizou a indústria bélica nacional para negociar um acesso ao petróleo árabe em meio aos choques de 1973 e 1979."

"Ainda temos instalado um importante setor industrial que não teria dificuldades para absorver projetos da indústria bélica de alta escala", declara Menem.

Rodrigues ressalta que em qualquer país a indústria de defesa tem sempre um principal cliente: o Estado. "Se não há investimento do próprio Estado na compra de equipamentos produzidos pela indústria nacional, não existe indústria de defesa."

"Antes de a indústria de defesa de qualquer país ter projeção internacional e se transformar em uma multinacional importante, ela se solidifica com as compras governamentais do próprio país."

(noticiabrasil) 


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