Moídos e debulhados
Nóis mói ele, nós debulha ele foi talvez a frase botinuda da semana, produto do desastrado diálogo flagrado pelo grampo beiradeiro até o momento não esclarecido pela Polícia Federal, tampouco por vítimas e praticantes.
Há outra: “Não se pode nem conspirar na intimidade”. Ambas são candidatas às mais risíveis falas do ano. A primeira contrasta fortemente com o linguajar original das raízes porto-velhenses.
Na condição de bola da vez, o escândalo possivelmente praticado pelo MDB para canibalizar o presidente da Assembleia, Maurão de Oliveira, induz o eleitorado a se esquecer de outros, a exemplo das propinas pagas na construção da Hidrelétrica Santo Antônio, por exemplo, envolvendo o ex-governador Ivo Cassol.
Lá se foram alguns mensalões a partir da Lei 1776, abrindo o espaço protegido pela Constituição do Estado à edificação da usina. E as Centrais Sindicais caladas sob o comando daquele ínclito senhor Paulinho da Força?
Maurão queria suceder Confúcio Moura, espantou-se com o crescimento da possível candidatura do vice, Daniel Pereira, e teria sido estimulado a tentar o golpe, amparando-se no apoio do colega deputado Jesuíno Boabaid.
Nenhuma novidade para quem se der ao exercício de memória e constatar novamente que o atual esperneio no âmbito emedebista é quase idêntico àquela refrega de Jerônimo Santana e Múcio Athayde Froes contra “o resto do partido”, nos anos 1980.
Ou seja, o “goela abaixo” funciona nesta terra há mais de 30 anos. E o eleitorado militante conhece o jeito das maquinações, embora tenha se acostumado a degustar a farofa.
Se Confúcio sair mesmo para o Senado Federal, renunciando à renúncia da candidatura, aí é que Maurão sepultará de vez por todas os seus intentos. O clima fervilhou, a vergonha parece corar até o rosto do frade de pedra.
Não haveria procissão ou culto evangélico suficientes para reverter o quadro desastroso nesse intervalo entre março e abril, respeitando-se o calendário eleitoral. Quanto mais, impeachment por causa da ponte de Ji-Paraná.
Quanto ao vice-governador, legítimo e legal sucessor, aconselhado a ponderar a respeito de apressadas substituições, certamente irá aparar arestas, medindo cada passo e fazendo campanha inteligente.
Daniel Pereira sabe o tamanho do andor e mesmo com o abalo judicial sofrido por um dos seus fortes aliados, o senador Acyr Gurgacz, ele tem apoio para concluir o mandato no Palácio Rio Madeira, e concorrer à sucessão, se assim se credenciar.
Contingências do destino de cada um dos protagonistas desse cenário semi-dantesco contribuem para o sepultamento da investigação do grampo.
Na verdade, nomeações e substituições em diversos escalões do poder soam forte e interessam muito mais. Virão algumas costuras. Pois não é?
A semana começa com ares assim de “tudo como dantes no Quartel de Abrantes” e só se alteraria se houvesse notitia criminis de quem se supõe manchado ou prejudicado pelo lamaçal da escuta telefônica e do resgate dos cargos.
Alguém sente alguma nódoa ou lama nas calças ou no paletó? O palácio caiu por causa do DER ou da PM? Nada, segue impávido.
E a dupla parlamentar, para surpresa dela mesma, ficou assim, moída e debulhada. Praticamente sem condições éticas e morais para desvendar [ou debulhar] a autoria do grampo que as desnudou.
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