O jornalismo não nasceu no Instagram, tampouco pode morrer no TikTok.
“Se vi mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes.”
A frase de Isaac Newton deveria ser obrigatória na parede de cada redação, estúdio, podcast ou canal de notícias de Rondônia. Porque, em tempos de ring light — essa luz fria que embeleza rostos, mas não ilumina ideias —, Canva e TikTok, o que não pode se perder — jamais — é a memória. E muito menos o respeito por quem abriu as veredas da notícia com uma máquina de escrever, uma fita cassete e uma coragem descomunal de dizer a verdade.
Vivemos uma espécie de guerra fria no jornalismo. De um lado, uma geração hiperconectada, veloz, criativa, mas muitas vezes apressada demais para ouvir. Do outro, profissionais forjados no tempo em que errar um nome em uma nota podia significar um pedido formal de desculpas na próxima edição. Uma geração que aprendeu que manchete não é grito — é síntese. Que lead não é enfeite — é responsabilidade.
A tecnologia mudou o jogo. Mas o jogo ainda exige regras — e ética. O que temos visto, no entanto, é um esforço deliberado de substituição: novos comunicadores querendo reescrever a história da imprensa local como se ela começasse agora, com seus próprios nomes e seus perfis turbinados por algoritmos. Um movimento que, em grande parte, é alimentado pela própria classe política, que passou a confundir popularidade com credibilidade — como se seguidores e likes bastassem para substituir o jornalismo sério.
Com um celular na mão, hoje é fácil apertar o rec e sair falando. É rápido, bonito, compartilhável. Mas será que a nova geração compreende o peso de uma vírgula bem colocada? A denúncia silenciosa de uma pausa? O risco — e a coragem — de uma apuração que desagrada aos poderosos?
Rondônia tem gigantes. E o jornalismo local tem raízes que não podem ser desprezadas.
Waldir Costa, clareza, objetividade e precisão — uma bússola para quem ainda escreve com propósito.
Eudes Lustosa, mestre do microfone, voz marcante e identidade forte, moldou a comunicação radiofônica com peso e autenticidade.
Montezuma Cruz, lirismo, sensibilidade e técnica: escreve para a alma, com densidade e profundidade raras.
Nonato Neves, pioneiro no jornalismo esportivo, deu voz, visibilidade e respeito ao esporte local.
Yalle Dantas, empatia que conecta. Sua comunicação constrói pontes — e não muros — com o público.
Ivonete Gomes, firme, afiada, escreve onde muitos apenas ousam pensar. Não abaixa a cabeça.
Alessandro Lubiana, articulador silencioso e preciso, mestre dos bastidores, costura política com estratégia.
Maríndia Moura, presença e imagem. Técnica, carisma e magnetismo — um ícone da TV com alma de artista.
Nilton Salina, crítico e necessário. Sussurra nas entrelinhas o que muitos não ousam dizer em voz alta.
Everton Leoni, domínio de cena e elegância verbal. Firmeza e classe — com o microfone ou a caneta.
Robson Oliveira, opinião política com consciência, coragem e coerência. Um dos grandes colunistas do estado.
Carlos Esperança, análise com fundamento, linguagem refinada e faro político apurado. Um dos mais experientes de Rondônia.
E ainda há tantos outros: Sérgio Pires, Beni Andrade, Carlos Araújo, Arimar de Sá, Rubens Coutinho, Eliânio Nascimento, Gerson Costa, Marcelo Freire, Mara Paraguassu, Elaine Maia, Marcelo Reis, Marlene Mattos, Rejane Júlia, Luciana Oliveira, Benedito Teles, Luiz Carlos Ribeiro, João Albuquerque, Eduardo Kopanakis, Meiry Santos... E os que já se foram, mas deixaram rastros eternos.
É preciso dizer: não se cresce derrubando alicerces. Barack Obama reverenciava Martin Luther King. Steve Jobs, revolucionário da tecnologia, se inspirava em Edison. Até Pelé, com toda sua glória, fazia questão de honrar Didi. Gente grande que foi gigante porque soube valorizar quem abriu o caminho.
A nova geração domina os filtros e cortes com maestria. Mas poucos conhecem a força de um título bem construído, a delicadeza de um bom lead, o impacto de uma denúncia apurada com responsabilidade. Isso não se aprende em tutorial — se aprende com convivência, escuta e humildade.
O futuro da comunicação em Rondônia é digital, sim — mas precisa ser respeitoso. O formato muda, a essência não: compromisso com a verdade, coragem diante do poder e responsabilidade com o povo.
Diana Braga - Diretora do Portal da Cidade Porto Velho

Fonte: Portal da Cidade Porto Velho