“A beleza não é apenas evasão, mas acima de tudo invocação. O cinema, quando é autêntico, não apenas consola: interpela. Chama pelo nome as perguntas que habitam em nós e, às vezes, até as lágrimas que não sabíamos que precisávamos expressar”.Palavras do Papa Leão XIV aos representantes do mundo do cinema na manhã deste sábado (15) no Vaticano

Em audiência dedicada ao mundo do cinema, o Papa Leão XIV recebeu no Palácio Apostólico, um grupo de representantes da arte cinematográfica neste sábado, 15 de novembro. Apesar dos seus 130 anos, disse o Papa em seu discurso, “o cinema é uma arte jovem, sonhadora e um pouco inquieta”, que inicialmente parecia um jogo de luzes e sombras, para divertir e impressionar. “Mas logo esses efeitos visuais souberam manifestar realidades muito mais profundas, até se tornarem expressão da vontade de contemplar e compreender a vida, de contar sua grandeza e fragilidade, de interpretar sua nostalgia do infinito”, completou Leão.
Colocar a esperança em movimento
“Uma das contribuições mais valiosas do cinema”, continuou o Pontífice, “é precisamente ajudar o espectador a voltar a si mesmo, a olhar com novos olhos para a complexidade da sua própria experiência, a rever o mundo como se fosse a primeira vez e a redescobrir, nesse exercício, uma parte daquela esperança sem a qual a nossa existência não é plena”. Me conforta, disse ainda, “pensar que o cinema não é apenas imagens em movimento: é colocar a esperança em movimento!”.
Até a dor pode encontrar um sentido
Entrar em uma sala de cinema, continuou, é como atravessar um limiar. “Na escuridão e no silêncio”, disse o Papa, “os olhos voltam a ficar atentos, o coração se abre, a mente se abre para o que ainda não havia imaginado”. Confirmando que embora o fluxo de informações que hoje recebemos seja constante com telas sempre acesas, o cinema é muito mais do que uma simples tela: “É um cruzamento de desejos, memórias e questionamentos. É uma busca sensível onde a luz perfura a escuridão e a palavra encontra o silêncio. Na trama que se desenrola, o olhar se educa, a imaginação se expande e até mesmo a dor pode encontrar um sentido”.
Nem tudo precisa ser imediato ou previsível
Continuando sobre o tema das salas de cinema e a preocupante erosão que as está afastando das cidades e bairros, Leão XIV convidou os presentes a uma reflexão: “A lógica do algoritmo tende a repetir o que ‘funciona’, mas a arte abre caminho para o que é possível. Nem tudo precisa ser imediato ou previsível: defendam a lentidão quando necessário, o silêncio quando fala, a diferença quando provoca. A beleza não é apenas evasão, mas acima de tudo invocação. O cinema, quando é autêntico, não apenas consola: interpela. Chama pelo nome as perguntas que habitam em nós e, às vezes, até as lágrimas que não sabíamos que precisávamos expressar”.
Que o cinema nunca perca a capacidade de surpreender
Ao concluir o encontro o Papa Leão recordou a dedicação silenciosa de centenas de outros profissionais do cinema, sem os quais uma obra seria impossível, afirmando, “cada voz, cada gesto, cada competência contribui para uma obra que só pode existir como um todo”. Concluindo: “Que o cinema continue sempre sendo um lugar de encontro, um lar para quem busca sentido, uma linguagem de paz. Que nunca perca a capacidade de surpreender, continuando a nos mostrar, mesmo que seja apenas um fragmento, do mistério de Deus”.
(vaticannews)