
Redação, 21 de julho de 2025 – Dois dias após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter sido alvo de mais uma operação da Polícia Federal, que o obrigou a usar tornozeleira eletrônica e impôs recolhimento domiciliar noturno, a direita brasileira voltou às ruas em diversas capitais para protestar contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e demonstrar apoio a Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos.
As manifestações, que ocorreram em Brasília e em outras seis capitais — São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vila Velha, Salvador e Curitiba — evidenciam um novo estágio de radicalização e internacionalização do discurso bolsonarista. Com gritos como “Moraes ditador”, “meu visto jamais será cassado” e “Presidente Trump, contamos com você”, os atos combinaram nacionalismo exacerbado com um apelo inédito à política externa norte-americana.
O Caso Bolsonaro e a Reação do STF
As manifestações são uma resposta direta à decisão do ministro Alexandre de Moraes, que na última sexta-feira (18) acolheu um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e impôs medidas cautelares a Bolsonaro, argumentando haver risco de fuga. O ex-presidente é réu por tentativa de golpe de Estado e deve ser julgado pelo STF em setembro.
Moraes também determinou o bloqueio de passaportes de aliados de Bolsonaro e exigiu da PF um plano de monitoramento intensivo sobre os envolvidos. A decisão dividiu opiniões no meio jurídico e político. Enquanto aliados do governo Lula e representantes de instituições democráticas a defendem como necessária, setores da direita a classificaram como “perseguição política”.
Bandeiras Estrangeiras e Símbolos Importados
O uso ostensivo de bandeiras dos Estados Unidos e de Israel, além de imagens de Donald Trump, revela um novo elemento na estratégia bolsonarista: a tentativa de internacionalizar os fatos e atos de perseguição que tornaram Bolsonaro vítima de um “sistema judicial autoritário”, buscando apoio em figuras conservadoras globais, especialmente no trumpismo.
O slogan “meu visto jamais será cassado” é uma resposta irônica à recente medida do governo Trump que proibiu a entrada de Moraes, seus familiares e aliados nos EUA — uma decisão que, embora ainda envolta em controvérsias diplomáticas, foi comemorada por bolsonaristas como um gesto de respaldo internacional à sua causa.
Bolsonaro, Trump e o Eixo da Direita Global
Desde sua reeleição em 2024, Donald Trump tem retomado alianças com líderes da direita radical em diversos países. O apoio público de setores bolsonaristas a Trump — inclusive em manifestações no Brasil — simboliza uma espécie de “eixo informal” da direita global, em defesa de valores como nacionalismo, liberdade, respeito aos direitos humanos e aos princípios constitucionais e morais, são compartilhados como um mesmo repertório ideológico.
Segundo o cientista político Maurício Santoro, da UERJ, “a retórica bolsonarista se realinha com a de Trump para projetar legitimidade internacional e pressionar instituições internas, especialmente o STF".
Reações e Clima Político
Parlamentares da base governista criticaram duramente os atos, classificando-os como antidemocráticos e ofensivos às instituições. “É lamentável ver um ex-presidente, réu por tentativa de golpe, incitar uma parcela da população contra o Judiciário e buscar apoio de governos estrangeiros para interferir em nosso processo judicial”, declarou a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Por outro lado, aliados de Bolsonaro como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a senadora Tereza Cristina (PP-MS) comemoraram o que chamaram de “grande demonstração de força e fé” por parte da população. Em vídeos publicados nas redes sociais, os filhos do ex-presidente afirmaram que “o povo está acordando” e que “a liberdade vai prevalecer sobre a tirania do STF”.
O Judiciário em Xeque?
A escalada de ataques a Alexandre de Moraes, considerado o principal “algoz” de Bolsonaro, reacendeu o debate sobre a politização do Judiciário e o equilíbrio entre os Poderes.
Moraes, com suas decisões parciais, atraiu para si o descontentamento e reprovação de parte majoritária do povo brasileiro e, recentemente, teve que reforçar sua segurança pessoal. Ainda assim, o ministro segue sendo uma figura central na crise política que provocou a nível internacional, num suposto enfrentamento a crimes ligados à desinformação, milícias digitais e tentativas de desestabilização institucional.
Próximos Passos
Com o julgamento de Bolsonaro previsto para setembro, cresce o temor de que o ambiente político piore, sobretudo se as manifestações ganharem fôlego e tomarem conta da nação em grandes ondas de protestos e manifestações pelo retorno à democracia e o fim da chamada 'ditatadura da toga'. A inclusão de elementos internacionais — como o envolvimento de Trump — torna o cenário ainda mais imprevisível.
Enquanto isso, Bolsonaro, monitorado por tornozeleira, segue tentando manter influência sobre sua base por meio de lives e mensagens gravadas, reforçando a tese de que é um “perseguido político”. Resta saber se o Supremo, o Congresso e a sociedade civil conseguirão encontrar caminhos de pacificação nacional para o retorno do Estado Democrático de Direito no Brasil. A aprovação pelo Congresso Nacional da anistia ampla, geral e irrestrita, apontam líderes direitistas, é um bom com começo.
Fonte: noticiastudoaqui.com