
O dia 19 de novembro, dedicado ao Dia da Bandeira, oferece uma oportunidade para analisar a trajetória de um dos símbolos nacionais mais reconhecidos e, ao mesmo tempo, mais disputados da história política brasileira.
Segundo o pesquisador João de Freitas, autor do texto “A Bandeira do Brasil” (joaodefreitas.com.br), logo após a Proclamação da República, em 1889, houve divergências entre as lideranças do novo regime sobre a imagem que representaria a transição do Império. Rui Barbosa apresentou uma proposta inspirada na bandeira dos Estados Unidos, com listras e estrelas. O estandarte chegou a ser hasteado na redação do jornal A Cidade do Rio e no navio Alagoas, que transportava a família imperial ao exílio, mas sua vigência foi curta. Poucos dias depois, o marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da República, vetou o modelo. Monarquista durante grande parte da vida, defendia que a nova bandeira preservasse elementos visuais do período imperial, especialmente as cores verde e amarela.
Mesmo rejeitado, o desenho de Rui Barbosa deixou marcas. Como lembra João de Freitas, ele serviu de base para a bandeira do Estado de Goiás e influenciou versões estaduais adotadas posteriormente, como as de Sergipe e Piauí. A bandeira que prevaleceu foi oficializada pelo Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889, e se manteve essencialmente inalterada desde então, recebendo apenas acréscimos de estrelas para representar os estados reconhecidos ao longo do tempo.
Essa trajetória revela um país que, ao emergir da Monarquia, era profundamente desigual e politicamente fragmentado. Ao longo das décadas, a bandeira foi apropriada por diferentes projetos, interpretada conforme disputas ideológicas e usada tanto para defender quanto para negar valores democráticos. Por isso, é fundamental reconhecer que ela não pertence a governos nem a grupos específicos, mas simboliza um pacto coletivo que precisa ser renovado todos os dias, não apenas em cerimônias cívicas, mas na defesa ativa dos direitos sociais, da liberdade e da justiça.
Nesse processo de construção simbólica, o Hino à Bandeira, apresentado pela primeira vez em 1906, com letra de Olavo Bilac e música de Francisco Braga, também desempenha papel relevante. Embora marcado pela retórica cívica de seu tempo, o hino traz versos que, hoje, evocam responsabilidade pública e compromisso com a democracia. Entre eles, destaca-se a estrofe:
“Contemplando o teu vulto sagrado
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.”
Lida sob a perspectiva atual, essa estrofe reforça que a bandeira só adquire significado quando vinculada ao dever público e ao esforço de construir um país que garanta direitos, justiça e dignidade para todas e todos.
Refletir sobre o Dia da Bandeira, portanto, significa reafirmar o compromisso com os trabalhadores e trabalhadoras da educação privada e com a construção de um Brasil que se reconheça em todas as suas cores, vozes e histórias. Um país que compreenda seus símbolos como parte da vida democrática e não como instrumentos de divisão. Celebrar 19 de novembro é assumir a responsabilidade coletiva de defender um projeto de nação baseado em inclusão, respeito e direitos.
Por Antônia Rangel