Brasília — A Polícia Federal (PF) planeja convocar o ex-presidente Jair Bolsonaro para prestar esclarecimentos sobre a ligação telefônica feita por ele ao senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) na véspera do depoimento do general ao Supremo Tribunal Federal (STF). A conversa, revelada pela coluna de Igor Gadelha, gerou forte reação entre ministros da Corte, integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da própria PF.
Segundo apuração da coluna, Bolsonaro procurou Mourão na semana passada, antes da oitiva do senador, para pedir que ele destacasse ao STF alguns pontos considerados importantes pelo ex-presidente. Mourão, que foi vice-presidente de Bolsonaro entre 2019 e 2022, confirmou a ligação, mas classificou a conversa como “genérica”.
O telefonema, entretanto, foi mal recebido nos bastidores do Judiciário e do Ministério Público. A avaliação é que o ex-presidente pode ter incorrido em tentativa de obstrução de Justiça, caso tenha, de alguma forma, pressionado ou orientado Mourão sobre o teor do depoimento. “Existe grande chance de ele ser ouvido”, revelou, sob reserva, uma fonte da cúpula da PF à coluna.
A Polícia Federal já se prepara para ouvir Bolsonaro formalmente, dentro do inquérito que apura a atuação de seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), na articulação de medidas nos Estados Unidos contra ministros do STF.
Repercussão negativa e silêncio de Bolsonaro
Após a divulgação da ligação, Mourão procurou a coluna para minimizar o episódio, afirmando que a conversa com o ex-presidente não teve conteúdo comprometedor. Bolsonaro, por sua vez, foi procurado desde a última terça-feira (27/5) para comentar o caso, mas não respondeu.
Nos meios político e jurídico, a ligação foi interpretada como mais um elemento que pode agravar a situação judicial do ex-presidente, que já figura como investigado em diversos inquéritos. Ministros do STF e integrantes da PGR veem o episódio com preocupação e consideram que ele pode ser usado para reforçar suspeitas de interferência indevida no curso das investigações.
O Centrão, grupo político com o qual Bolsonaro mantém interlocução, também teria enviado alertas ao ex-presidente sobre o risco de uma eventual prisão, segundo apurou a coluna.
Contexto: Mourão, ex-vice de Bolsonaro, e o avanço das investigações
Hamilton Mourão, atual senador pelo Rio Grande do Sul, foi vice-presidente durante todo o governo Bolsonaro. Sua convocação para depor no STF ocorre no âmbito das investigações sobre a tentativa de golpe e ataques às instituições democráticas.
A ligação de Bolsonaro a Mourão é mais um episódio que se soma à série de investigações envolvendo o ex-presidente e seus aliados, que incluem suspeitas sobre tentativa de interferência na Polícia Federal, articulações golpistas e campanhas de desinformação.
Nos próximos dias, a expectativa é que a PF avance na tomada de depoimentos, incluindo o de Bolsonaro, que já soma convocações em diferentes frentes investigativas.
Fonte: noticiastudoaqui.com