
Redação, Brasília, 15 de julho de 2025 - O projeto de anistia — ou ao menos de abrandamento das penas — para os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 foi abruptamente retirado da pauta por decisão dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O motivo? Um alerta vindo de Washington.
A recente escalada nas tensões comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos, impulsionada por um novo pacote tarifário anunciado pelo presidente Donald Trump — reeleito em 2024 —, mudou o jogo político em Brasília. A avaliação no alto escalão do Congresso é clara: qualquer aceno a setores extremistas no momento poderia ser interpretado como afronta à democracia e arriscar ainda mais as relações já tensionadas com o governo norte-americano.
Projeto avançado, mas não maduro
A proposta, que vinha sendo discretamente construída por aliados do Centrão e da oposição ao governo Lula, já estava em estágio avançado. Segundo apurações, o texto previa anistia total para réus primários e penas alternativas para condenados sem envolvimento direto com atos violentos. Embora a tramitação ainda não tivesse começado oficialmente, tratava-se de uma articulação com apoio relevante nos bastidores, impulsionada pela narrativa de “pacificação” e reconciliação nacional.
Entretanto, o cenário internacional mudou abruptamente. Com a imposição de tarifas adicionais sobre produtos brasileiros — especialmente no agronegócio e no aço — o Brasil se vê em uma posição vulnerável. Fontes próximas a Alcolumbre e Motta afirmam que ambos passaram a considerar que o avanço de qualquer medida que pudesse ser interpretada como condescendência com atos antidemocráticos seria um erro estratégico neste momento.
O fator Trump
Desde que reassumiu a Casa Branca, Trump tem sinalizado tolerância zero com movimentos considerados antidemocráticos fora dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que atua de maneira protecionista no plano comercial. Um relatório interno do Itamaraty, obtido por fontes próximas ao governo, indica que Washington estaria monitorando atentamente os desdobramentos da crise do 8 de Janeiro e poderia usar decisões políticas internas como justificativa para sanções adicionais ou restrições em organismos multilaterais.
“O governo norte-americano, embora envolto em suas próprias contradições, quer se reposicionar como fiador da ordem democrática no Ocidente. Uma anistia ampla agora seria malvista e politicamente custosa para o Brasil”, analisa a cientista política Maria Teresa Salvato, da UnB.
Congresso dividido, Planalto em silêncio
Apesar do recuo momentâneo, o tema continua polarizando o Legislativo. Setores conservadores, como a bancada da bala e parte da bancada evangélica, pressionam pela retomada da proposta. Do outro lado, partidos de esquerda e membros do governo avaliam que qualquer anistia neste momento seria uma afronta às instituições e às vítimas dos ataques de 2023.
O presidente Lula, por sua vez, optou pelo silêncio estratégico. Fontes do Palácio do Planalto indicam que o governo federal acompanha com cautela a movimentação no Congresso, mas não pretende interferir diretamente — ao menos por enquanto.
Caminhos futuros
Apesar do congelamento, a proposta não foi descartada definitivamente. A leitura predominante é de que, se as relações com os EUA se estabilizarem ou se houver pressão popular significativa, o tema pode voltar à pauta no segundo semestre. Ainda assim, a manobra seria arriscada.
“A janela para essa anistia está se fechando. E se Trump continuar a endurecer, a tendência é que o Congresso recue de vez”, resume um assessor legislativo com trânsito entre os dois presidentes das Casas.
A decisão de Alcolumbre e Motta marca mais um capítulo na delicada equação entre política interna e diplomacia internacional. E revela que, em tempos de globalização e tensões geopolíticas, nenhuma decisão de impacto é tomada em vácuo.
Fonte: noticiastudoaqui.com