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Conversas entre vereadores e secretário de Governo expõem bastidores de articulação por apoio à proposta de endividamento; emendas impositivas viram moeda de troca.
Redação, Porto Velho, RO, 15 de julho de 2025 — Um vazamento de áudios gravados durante uma reunião fechada entre vereadores da capital e o secretário-geral de Governo, Sérgio Paraguassu, revelou os bastidores controversos da articulação para aprovação de um novo empréstimo de R$ 180 milhões solicitado pelo prefeito Léo Moraes.
As gravações, que vieram a público nesta segunda-feira (14), escancararam negociações onde interesses políticos, trocas por emendas parlamentares e pouco compromisso com a transparência se sobressaem às reais necessidades da população.
A reunião, que não constava na agenda pública, ocorreu para costurar apoio ao projeto enviado pelo Executivo à Câmara Municipal, que autoriza o município a buscar crédito internacional com aval da União. O caso provocou reações imediatas nas redes sociais e no meio político local.
Conversas gravadas revelam foco em emendas e imagem pública
Nos áudios, a vereadora Sofia Andrade (PL) demonstra preocupação não com o impacto fiscal do empréstimo, mas com as críticas nas redes sociais. Ela admite o desgaste da votação e ironiza:
“Quero saber como o povo vai pagar a conta.”
Sofia também cobra tratamento “igualitário” na divisão das contrapartidas políticas, sugerindo que os votos na Câmara têm valor semelhante e que o Executivo deveria distribuir melhor os benefícios.
Já o vereador Breno Mendes foi mais direto ao condicionar o apoio ao projeto à garantia de que os 2% do orçamento — equivalentes a R$ 21 milhões em emendas impositivas — serão mantidos:
“Nem que deixe de limpar menos a cidade para atender as emendas impositivas.”
O parlamentar ainda se queixou de desequilíbrio nas trocas políticas:
“Estamos dando muito mais para o Executivo do que estamos recebendo.”
Entenda o que está em jogo
O empréstimo de R$ 180 milhões, segundo o governo municipal, é necessário para investir em infraestrutura, mobilidade urbana e saneamento. Contudo, o histórico recente levanta dúvidas: R$ 300 milhões já foram autorizados pela Câmara anteriormente, e parte significativa desses recursos ainda não foi executada.
Além disso, o embate gira em torno das emendas impositivas, que funcionam como capital político para os vereadores, já que permitem indicar diretamente onde parte do orçamento será aplicada, muitas vezes em entidades conveniadas — sem licitação direta.
A equipe econômica do prefeito, por sua vez, alerta que atender os 2% solicitados pode comprometer contratos essenciais, como os de limpeza urbana, e considera a demanda uma “bolada nas costas”.
Secretário admite limitações orçamentárias
Nos áudios, o secretário Sérgio Paraguassu confirma que o município só possui margem fiscal de R$ 180 milhões e que a liberação do crédito, mesmo com aprovação legislativa, dependerá de trâmites burocráticos na esfera federal:
“Tem o Ministério do Planejamento, a STN... isso pode demorar até um ano.”
Ele também descartou aumento de impostos, afirmando que o pagamento do empréstimo será feito com base na arrecadação futura:
“Caso não consiga pagar, vamos fazer um ajuste fiscal.”
Críticas à gestão e falta de execução anterior
Outro ponto polêmico é a falta de execução dos recursos já aprovados. O vereador Devanildo Santana questionou da tribuna o que chamou de “birra e ego” da atual gestão:
“Deixaram R$ 90 milhões em dezembro. Tem recurso. O último empréstimo do Banco do Brasil está parado. Afastaram técnicos experientes por vaidade.”
Segundo ele, a lentidão na aplicação dos recursos compromete a credibilidade do novo pedido de endividamento.
Repercussão e crise política
O vazamento causou tumulto na sessão legislativa seguinte. O presidente da Câmara, Gideão Negreiros, suspendeu temporariamente os trabalhos para “acalmar os ânimos”. Os vereadores citados — Sofia Andrade e Breno Mendes — repudiaram publicamente a gravação, mas não negaram o teor das falas.
Nos bastidores, o caso gerou forte desgaste ao prefeito Léo Moraes, que já enfrenta críticas por promessas de campanha não cumpridas. A oposição promete usar os áudios como munição para questionar a gestão fiscal, a transparência e a lisura da relação entre Executivo e Legislativo.
Transparência em xeque
Especialistas ouvidos por veículos locais apontam que, embora o empréstimo possa ser legal, o conteúdo dos áudios revela práticas políticas pouco republicanas, colocando em dúvida os critérios de prioridade do Executivo e o comprometimento dos vereadores com o interesse público.
OUÇA OS ÁUDIOS:
Fonte rondoniagora
E agora?
Com o escândalo em andamento, a votação do projeto ainda não tem data definida. Parte da Câmara cogita adiar a análise até que a Prefeitura apresente detalhamento técnico dos projetos, cronograma de execução e um plano de transparência para os recursos.
Organizações da sociedade civil já articulam manifestações e ações junto ao Ministério Público para impedir a aprovação sem o devido debate público.
Fonte: noticiastudoaqui.com