
O Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO) determinou que o governador Marcos Rocha adote, em caráter de urgência, medidas para tornar públicas as informações referentes às diárias recebidas por ele, pelo vice-governador Sérgio Gonçalves e por secretários de Estado. A exigência consta em ofício enviado ao chefe do Executivo no âmbito da análise das contas do exercício financeiro de 2023.
Atualmente, a maior parte desses dados encontra-se sob “grau reservado”, ou seja, protegidos por sigilo sob justificativa de segurança institucional. No entanto, segundo o TCE, tal medida tem servido como barreira para impedir a população de acompanhar os gastos milionários com viagens, principalmente internacionais.
Recentemente, uma comitiva liderada por Rocha participou do evento "Rondônia Day Tour", realizado em Brasília, no Ministério do Turismo. Além do governador, participaram secretários, policiais militares e servidores comissionados. Todos os custos da viagem foram classificados como sigilosos, impedindo o acesso público às informações, inclusive das diárias do assessor de redes sociais Renan Fernandes Barreto, lotado na Governadoria. O mesmo expediente foi adotado em viagens anteriores a países como Israel, Japão, China e Estados Unidos. Em uma das missões a Israel, a chefe de gabinete do governador, Rute Carvalho Silva Pedrosa, integrou a comitiva, embora seu papel oficial na viagem não tenha sido esclarecido.
A decisão do TCE, assinada pelo conselheiro Omar Pires Dias e referendada pelos demais membros — com exceção do conselheiro Jailson Viana, que se declarou suspeito — estipula prazo de 30 dias para que o governo comprove, no processo nº 01486/2025, a adoção de “medidas concretas e resolutivas quanto à disponibilização, no Portal da Transparência do Estado, das informações relativas às diárias concedidas ao Governador, Vice-Governador, Secretários de Estado e seus acompanhantes oficiais”, em respeito aos princípios da publicidade e da eficiência.
Viagens milionárias e falta de retorno concreto
Desde o início do mandato, Marcos Rocha já passou mais de 190 dias fora do estado, cumprindo agendas no exterior com o discurso de "promover Rondônia no cenário internacional". Entre os destinos, estão feiras de pesca nos EUA, conferências ambientais como a COP 29 no Azerbaijão, e encontros diplomáticos em países como Japão, China, Bolívia, Peru e Israel.
Apesar da intensa agenda internacional, não há resultados efetivos que justifiquem os gastos — que já superam R$ 3 milhões, segundo informações do próprio governo. A falta de transparência é respaldada por um decreto estadual que permite o uso do sigilo em nome da segurança institucional, mas que, na prática, tem sido usado para ocultar dados sensíveis da população.
A questão das viagens também envolve tensões internas no governo. A crise política que culminou na saída do ex-chefe da Casa Civil, Júnior Gonçalves, revelou disputas de bastidores que estremeceram a relação entre Marcos Rocha e seu vice, Sérgio Gonçalves. Após a exoneração de Júnior, o gabinete do governador passou a direcionar críticas ao vice, atribuindo-lhe a pecha de "traidor" — narrativa encampada também por Luana Rocha, primeira-dama e aliada política do governador.
Com a nova determinação do TCE, cresce a pressão para que o Governo do Estado rompa com o sigilo e apresente à população a real dimensão dos gastos com as viagens e as diárias de seus integrantes, reforçando os princípios da transparência e do controle social.