Crônica de Fim de Semana - O CONFLITO DE GERAÇÕES E O CELULAR
O conflito de gerações é um fenômeno social inerente à própria História da humanidade. Em tempos imemoriais, as pessoas que quebravam conceitos eram submetidas, indefesas, à vergasta do chicote nos canaviais e cafezais brasileiros.
Na década de 30, a educação era baseada nos conceitos das senzalas e a regra era: Peia não dói - mulher e criança não entram em conversa de homem e “fazer filho” era uma forma de prevenir a velhice. Havia um rigor excessivo na vida.
Nos bailes era proibido dançar de rosto colado, e a norma era sempre em salões claros. Beijar na boca? – só depois do noivado! As famílias ricas escolhiam os maridos para as moças para garantir-lhes a manutenção do futuro.
De repente o presidente Getúlio Vargas despeja o homem do campo nas cidades (transumância), nordestinos se transportam para São Paulo fugindo da seca. Abre-se espaço para o segundo ciclo industrial brasileiro e aí se misturam raças de todos os lados do mundo: italianos, japoneses, alemães, polacos, açorianos, açoitados que foram das atrocidades do pós guerra.
Essa amálgama de gente, vinda dos continentes europeus e asiáticos para o Brasil, iria formatar um caldo cultural e um conceito novo na relação pai, mãe, filhos e netos.
O sistema feudalista nordestino, o imperialismo dos donos de cafezais, jamais permitiu a educação nos pousos de suas próprias fazendas. Aprender a ler? Nem pensar!
A década de 30 representa, assim, marco indelével do primeiro rompimento do “status quo” desde a instalação da República e a libertação dos escravos.
A Revolução dos Tenentes, o Estado Novo, a Intentona Comunista de 1937 representam os primeiros movimentos contra a letargia secular do Brasil, o “gigante das Américas.”
Essas manifestações, é claro, tiveram grandes impactos sociais. Getúlio, com sua política voltada para o operário, gerencia o primeiro esforço com vistas à proteção do trabalhador brasileiro, com a criação da CLT. Abre espaços para as mulheres, permitindo-lhes o direito de votar, e os pracinhas brasileiros, no retorno de Monte Castelo na Itália, despacham a Ditadura de Vargas.
Definitivamente, a partir de 1950 éramos outro país, que trouxe a bordo a figura fantástica de Juscelino Kubitschek, o presidente Bossa Nova.
A transladação da capital da República, do Rio de Janeiro para Brasília, representa um marco histórico no solavanco social. Os nordestinos vieram em massa e ajudaram a construir a cidade.
Esses embalos sociais, naturalmente, trincaram o estamento educacional “familiar”, formatado na palmatória, nas “sabatinas”, no castigo ajoelhado em caroços de milho e nas réguas nos bancos escolares.
Com o processo fratura-se, em definitivo, o sistema patriarcal forjado na economia de subsistência, onde o pater familiar (o pai) mandava no reino de seu lar com mãos de ferro e “olhares” que, como vozes de comando, trincavam a alma dos meninos que, “pianinhos”, obedeciam sem retrucar.
E na década seguinte, Roberto Carlos, com sua “Jovem Guarda”, manda tudo para o inferno. É que a juventude da época, entupida da vergasta secular à submissão, encerra o ciclo da chibata, das peias, da “pisa”, da porrada, pedindo passagem à liberdade...
Surgiu, assim, como uma avalanche mundial, a “guerra dos miúdos”, como se houvesse descido do céu uma ordem celestial. Para completar, o escritor argentino José Ingenieros, em seu livro “O Homem Medíocre”, reverbera: “juventude, sem o espírito de rebeldia, é servidão precoce”.
A partir desse momento surgem as “tribos” de hippies, paramentadas de forma extravagante e um viver “psicodélico”, a se alojarem nas ruas, tudo para confrontar a maneira antiga de educar e promover a rebeldia.
Como todo movimento que rompe conceitos sempre deságua em seqüelas intermináveis, o excesso gerou danos. Abriu-se, assim, espaço para as drogas e para a liberação sexual desenfreada.
De repente, todas as mulheres eram de todos os homens e todos os homens eram de todas as mulheres, sem pudor. Dir-se-ia: um desmanche histórico que não acontece nem entre os aborígenes brasileiros sem contato com a civilização.
Noves fora toda essa avalanche de subversão da história, que dizer dos tempos atuais, quando fomos invadidos pelo celular, a arma de maior desafio desde que Cabral pisou as terras de Santa Cruz?
A guerra, agora, já nasce no berço, e a criançada, nas redes sociais, fala de assuntos que arrepiam até o cabelo dos adultos, antecipando o fantástico momento de deixar de ser criança. È a modernidade trazendo o acentuado conflito no ambiente familiar.
O Pai, que antigamente ditava as ordens, pela falta do diálogo hoje é obrigado a ouvir as insolentes “verdades” deles, tais como: você é um dinossauro, tá “bugado”, deixa de ser burro, não sei como você venceu na vida! Me deixa, velho ! Vai procurar tua turma! – e por aí vai.
Isso é talvez o maior impacto entre as gerações desde o século passado, posto que não existe um limite entre o homem e o mostro cibernético que se instalou nos lares sob o comando de um chefe invisível, a Internet, via Facebook, Instagram, etc.
E neste imbróglio, vem a prostituição, as drogas, o desrespeito aos mais velhos, tornados para eles lixos convencionais.
No bojo, resta a alienação do próprio jovem, hipnotizado que está pela lição cibernética, sem direção, sem um Norte para apontar-lhe um amanhã menos conflituoso.
É tempo, pois, de reverência aos pais, de ouvir os seus conselhos, de uma nova peregrinação de vida na busca de uma nova saída para o homem, antes é claro, que o celular e seus jogos eletrônicos, derretam o que ainda resta do convívio familiar nesse conflito das gerações, e levem os meninos para o inferno.
AMÉM!
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