OS NOVOS MEIOS - Como as redes sociais influenciaram as eleições de 2022? Especialistas explicam
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As eleições de 2022 chegaram ao fim no último domingo (30) e as redes sociais tiveram grande participação na disputa. O pleito decidiu novos deputados estaduais, deputados federais, senadores e governadores em todo o país, mas, sem dúvidas, a maior atenção se voltou para a disputa do cargo de presidente da República.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 50,9% dos votos, derrotou Jair Bolsonaro (PL), com 49,1%, e Lula teve o maior número de votos absolutos de um presidente desde a redemocratização do Brasil: 60.345.999 votos.
Bolsonaro, que continua sendo o presidente do Brasil até 31 de dezembro, recebeu 58.206.354 votos. A diferença foi de pouco mais de 2,1 milhões de votos, o que representa a disputa presidencial mais acirrada da história do Brasil.
A campanha eleitoral oficial e autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teve início em 16 de agosto e, diferente de qualquer pleito, foi nítida a atenção de todos os candidatos voltada para as redes sociais, como TikTok, Twitter, Instagram, Facebook, WhatsApp, Telegram e até YouTube.
Qual a importância das redes sociais nas eleições de 2022?
Em entrevista ao Olhar Digital, Edney “Interney” Souza, professor de marketing de produto da ESPM, afirmou que as redes sociais se tornaram a principal forma de comunicação da população. “Nós temos o WhatsApp com mais alcance que a televisão tradicional ou rádio”, disse.
Interney apontou que as redes sociais começaram a demonstrar sua importância ainda nas eleições de 2018. O especialista lembrou que no pleito passado Geraldo Alckmin era o candidato com maior tempo de televisão, mas teve apenas cerca de 4,7% dos votos válidos.
Enquanto Jair Bolsonaro, que teve sua campanha fortemente voltada para a internet, com pouco tempo de televisão, conseguiu se consagrar como o presidente eleito, derrotando Fernando Haddad no segundo turno.
“Em 2022 tivemos outros partidos e candidatos reconhecendo a importância das redes sociais”. Interney afirmou que os presidenciáveis chegaram a se mobilizar mais para podcasts de grande audiência, do que para os tradicionais debates eleitorais.
Na reta final das eleições, Lula chegou a desistir de participar do debate no SBT e da Record TV, mas concedeu uma entrevista ao Flow Podcast, no YouTube, que rendeu mais de 1,09 milhão de espectadores simultâneos.
Bolsonaro também destinou uma parte de sua agenda aos famosos “vídeocasts”. No programa Inteligência Ltda., o presidente atingiu a marca de 1,7 milhão de internautas simultâneos, batendo o recorde de audiência do adversário.
“O podcast ou a live acaba gerando material que continua sendo disseminado pelas redes sociais”, disse Interney. “A viralização em redes sociais apareceu em 2014 com o Obama, foi utilizada no mesmo ano no Brasil, ganhou corpo em 2018 e passou a ser estratégia de todos os partidos em 2022”.
A advogada, escritora e cientista política, Michelle Meneses, afirmou ao Olhar Digital que as redes sociais foram “fundamentais nas campanhas eleitorais de Lula e Bolsonaro pois foram o modo mais rápido e eficaz de levar a mensagem dos candidatos aos eleitores”.
“Mas não acredito que as redes sociais tenham sido determinantes para a vitória de Lula e a derrota de Bolsonaro”, relatou Meneses. A cientista política cita que uma “memória de um passado mais feliz” pode ter sido um dos fatores determinantes na escolha do eleitorado .
O cientista político, escritor e sociólogo, Alberto Carlos de Melo Almeida, disse em entrevista ao Olhar Digital que as redes sociais têm a mesma importância que qualquer meio de comunicação. “As redes sociais criam bolhas de convivência, ou seja, elas alimentam quem compartilha das mesmas ideias.”
Almeida apontou que ainda não há evidências científicas que comprovem que as redes sociais levam à uma persuasão avassaladora. “Na verdade, as evidências indicam que as plataformas contribuem para polarização e radicalização, já que as pessoas passam a viver em uma espécie de ‘câmara de eco'”.
Os influenciadores digitais foram importantes nas campanhas?
Além da forte presença dos candidatos nas redes sociais, em 2022 as campanhas contaram com o apoio de diversos artistas e influenciadores digitais. Um dos maiores exemplos deste caso é o youtuber Felipe Neto, que acumula cerca de 32 milhões de seguidores no Instagram e no Twitter, sem contar os mais de 44 milhões de inscritos em seu canal do YouTube.
O influenciador declarou apoio à Lula e fez parte de sua campanha nas plataformas digitais, disseminando diversos vídeos combatendo fake news e até mesmo entrando em confronto com os influenciadores e políticos bolsonaristas.
Enquanto isso, uma pesquisa divulgada em setembro e realizada pelo NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apontou que o algoritmo do YouTube recomenda mais vídeos pró-Bolsonaro.
Os pesquisadores criaram 18 novos perfis, que acessaram o YouTube em diferentes datas e horários entre os dias 23 e 30 de agosto, utilizando uma aba anônima do navegador e VPN – ferramenta que oculta o verdadeiro endereço IP do usuário, simulando assim diferentes localizações dentro do Brasil.
Nas 18 visitas-teste, os canais do grupo Jovem Pan foram recomendados 14 vezes na página inicial da plataforma de vídeos do Google. A entrevista de Bolsonaro ao programa Pânico, por exemplo, foi recomendada oito vezes pelo YouTube.
Também foram encontradas recomendações que apresentam Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como “doente mental” e “chefe de quadrilha”, ou que apontam que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem uma aliança com o então candidato à presidência e adversário de Bolsonaro.
Michelle Meneses apontou que Bolsonaro sempre teve uma maior presença nas redes sociais, “com milhares de seguidores e uma máquina de influenciadores digitais, enquanto Lula é tido como analógico”.
A cientista política aponta que a participação de influenciadores na campanha petista foi fundamental, pois “no começo da campanha eleitoral, as redes sociais de Lula estavam bem estruturadas na forma e no conteúdo, mas não estavam prontas para combater o volume absurdo de fake news, além da pouca interação com seus seguidores”.
Após a fortificação do relacionamento com os influenciadores, o combate às informações falsas aumentaram e passaram a acontecer muitas vezes em “tempo real”. Enquanto proporcionaram ao então candidato Lula “a possibilidade de interagir com seus seguidores, o que alavancou a campanha digital”, explicou Meneses.
Alberto Carlos de Melo Almeida afirmou que o mais importante de uma campanha eleitoral são os próprios candidatos, “Lula e Bolsonaro são candidatos líderes”, mas que tudo pode ajudar. O cientista político relatou que o apoio de influenciadores digitais são como grãos de areia na campanha, mas que eles têm uma importância difícil de se mensurar em cada nicho que atuam.
“O bolsonarismo não descansou em fazer ativismo digital durante os últimos quatro anos, foi algo constante. Os influenciadores pró-Lula entraram nessa disputa durante as eleições para tentar contrabalançar esses poderes”, explicou Interney.
O professor ainda apontou que por muitas vezes as pessoas se esquecem que os bolsonaristas começaram esse trabalho nas redes sociais e não pararam de fazê-lo desde a vitória de Bolsonaro em 2018. Interney relata que esse ativismo contrário, que ajudou a eleger Lula, deve continuar, não se prendendo apenas ao período eleitoral.
Interney apontou que é preciso que a dita “esquerda brasileira” consiga se comunicar com outros espectros da sociedade, pois a direita “é mais eficiente em dialogar com espectros específicos da sociedade e tem uma frequência, permanência e duração muito maior”.
O especialista afirmou que os partidos e candidatos que quiserem se manter fortes ou crescerem para as próximas eleições devem manter uma presença nas redes sociais e uma campanha digital ativa, não desmantelando seus esforços de comunicação.
“Esforços de comunicação não se resumem em gastar milhões de reais em mídia no Google pois isso é uma coisa pontual de campanha. É importante manter canais e espaços e participar de canais e espaços da oposição”, disse Interney.
(olhardigital)
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