Trocando cargos por votos
Todo presidente da República que entra sempre quer fazer mais e melhor que o seu antecessor. Pelo menos na teoria tem sido assim. Na prática, porém, nem tudo sai como o planejado. Curiosamente, todos, sem exceção, falam de união, pacto ou coalizão, como alternativa para salvar o Brasil do caos iminente. O velho e manjado discurso está na ponta da língua: “É hora de cada um dar sua cota de sacrifício pelo bem do país”. Alguns até conseguiram lograr êxito nos primeiros meses do governo. Depois, foram perdendo a capacidade ante o inexorável correr do tempo, à medida que se aproximava o fim do mandato. E a união, o pacto, a coalização, ou qualquer outro nome que se queira dar, só vingou mesmo enquanto duraram as concessões.
O PT voltou ao poder com Lula, que tenta alcançar a unanimidade no Congresso para fazer passar seus projetos e programas de governo. Lula quer que todos os partidos o ajudem no grande esforço de reconstrução nacional. O problema é que Lula vem recorrendo aos mesmos métodos que todos condenamos, principalmente os petistas, qual seja, a política do toma-lá-dá-cá, como se viu na aprovação da chamada reforma tributária, que só passou no plenário da Câmara depois que o governo prometeu entregar ministérios aos aliados, o que deverá acontecer nos próximos dias, com a primeira reforma ministerial, em menos de sete meses de mandato. É mole? Não! É fisiologismo escrachado.
Enquanto sinecuras são trocadas por votos, Lula continua deslumbrado com o poder. Parece que o petista ainda não caiu na real. Se o propósito de Lula, como ele mesmo tem dito, é o de encetar uma cruzada contra a fome, precisa abrir mão da farra oficial, cheia de pompa e circunstância e começar, desde já, a colocar em prática uma política de austeridade que os tempos atuais exigem, ao invés de ficar por ai esbanjando o dinheiro do contribuinte brasileiro, que já não mais aguenta ser espoliado com um sem-número de impostos. Não sem motivo ocupamos lugar de destaque no pódio das nações que mais cobram impostos. Lula precisa entender que a campanha eleitoral já passou. E que o PT não é de oposição. Agora é governo. Não cai bem, portanto, aos olhos da sociedade, ficar estimulando a troca de cargos por votos.
Por Valdemir Caldas
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