Temendo protestos e chuvas de ovos, ala do PT quer afastar Lula das ruas durante a campanha
Há coisas que só acontecem mesmo por essas bandas dos hemisférios, evidenciando que o Brasil é, sim, um país paradoxal, cheio de contrastes os mais absurdos. Apesar de o ex-presidente Lula aparecer na liderança de quase todas as pesquisas de intenção de voto para a presidência da República, uma ala do PT, temendo protestos e chuvas de ovos, quer mantê-lo o mais distante possível das ruas durante a campanha eleitoral, o que, na prática, apenas configuraria confissão de culpa pelos crimes cometidos.
Fato é que, desde que deixou a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, em novembro de 2019, onde ficou preso 580 dias, pela prática de vários crimes, solto por decisão da corte suprema, Lula não consegue andar tranquilamente pelas ruas do Brasil sem encarar protestos e ouvir gritos de ladrão. Para confrontar a popularidade de Lula com o que dizem as pesquisas, seguidores de Jair Bolsonaro o desafiaram para uma caminhada com o presidente, sem aviso, pela avenida Paulista, um dos logradouros mais importantes do município de São Paulo, mas o petista não respondeu ao desafio, como também não tem respondido os que o acusam de saquear os cofres da Petrobrás, preferindo sair pela tangente. Caso contrário, já teria enquadrado seus acusadores, porém, como não o fez até agora e, certamente, jamais o fará, vale o dito popular segundo o qual quem cala, consente.
A única coisa para qual Lula tem a resposta na ponta da língua é sobre o seu flerte com o ex-tucano Geraldo Alckmin, outrora crítico ferrenho dele e do seu partido, o PT. Contrariando a “companheirada”, Lula quer Alckmin como vice na sua chapa de qualquer maneira. E justifica a esdruxula união dizendo que, para garantir o seu retorno ao Palácio do Planalto, o PT precisa fazer uma política de ampla aliança eleitoral, independente de coloração partidário, afinidade ideológico ou coisa do gênero. Os fins justificam os meios. Assim, qualquer iniciativa é válida quando o objetivo é conquistar o poder.
Difícil, no entanto, será encarar o povo nas urnas, pois como todo mundo sabe, Lula está moralmente enfraquecido pelos escândalos que lhe arranharam profundamente a imagem de cidadão ético. Apesar de ter sido condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, peculato e formação de quadrilha, Lula ganhou salvo-conduto da mais alta corte do país, mas não consegue sair às ruas tranquilamente. Aonde vá, onde quer que se ache, o petista é recebido com protestos e gritos de ladrão. A indignação população é justificável. Não há nada mais em Lula que o identifique com aquele retirante pobre, que deixou a miséria da cidade de Caetés, interior de Pernambuco, passou pela presidência do sindicato dos metalúrgicos, até chegar à presidência da República. Aquele Lula foi engolido pela Operação Lava-Jato.
(*) Por Valdemir Caldas
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