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MULHERES SAMARITANAS DA AMAZÔNIA - Freira porto-velhense participa de reunião com Papa Francisco no Vaticano e discute questão indígena

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Em audiência histórica para a Igreja na Amazônica, as indígenas Patricia Gualinga, Ir. Laura Vicuña e Yesica Patiachi, foram recebidas pelo Papa Francisco na manhã de ontem (01/06)

 

A porto-velhense Laura Vicuña Pereira Manso, freira da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, participou, ontem (01/06), de reunião com o Papa Francisco, no Vaticano, acompanhada de mais duas representantes amazônicas, Patricia Gualinga e Yesica Patiachi.

O encontro com o Papa Francisco foi mobilizado através de uma carta enviada ao Vaticano no início de março. Patrícia, Laura e Yesica solicitavam um diálogo presencial com o intuito de fortalecimento da questão religiosa da entidade católica na Amazônia.

Vatican News

As três mulheres indígenas, Patricia Gualinga e Ir. Laura Vicuña, vice-presidentes da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e Yesica Patiachi, vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), enviaram uma carta, entregue pessoalmente ao "vovô Francisco" pelo cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA. Nela pediam um diálogo presencial entre as três representantes indígenas e o Papa, para fortalecer os caminhos de comunhão e unidade.

Dias depois, a Prefeitura da Casa Pontifícia enviou à Ir. Laura, Patricia e Yesica confirmando que seriam recebidas pelo Papa Francisco em audiência privada no dia 1º de junho de 2023. Patricia Gualinga, Ir. Laura Vicuña e Yesica Patiachi, visitaram na manhã de quinta-feira a Rádio Vaticano - Vatican News e contaram sobre o encontro com o Papa Francisco.

Irmã Laura Vicuña Pereira Manso, indígena do povo Kariri, é brasileira, nasceu em Porto Velho, Rodônia. É filha de pais migrantes. Religiosa da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, é formada em antropologia, especialista em psicologia social e mestre em linguística indígena.

"Foi para nós uma grande alegria esse encontro com o Papa, um encontro histórico. Nós estávamos as três num aeroporto na Colômbia, em um restaurante chamado amazônico, e começamos a conversar que podíamos escrever uma carta ao Papa para ver se ele nos receberia. A carta foi entregue pelo cardeal Barreto no dia 4 de março e no dia 9 de março recebemos a resposta de que o Papa nos receberia no dia 1º de junho. De verdade, foi uma grande alegria", diz Laura Vicuña.

Ao comentar sobre o Papa, Laura disse que o Santo Padre "nos transmite uma grande paz e sobretudo o seu grande compromisso com a Amazônia e com os pobres. Papa Francisco representa mudanças. Papa Francisco representa esse novo sopro do Espírito, essa Primavera na Igreja. Mais uma vez mais vivemos essa Primavera e eu sinto que o Papa Francisco impulsiona estas mudanças, mudanças de verdade e não tem como voltar atrás, porque elas são mudanças inspiradas no fundamento que é Jesus Cristo", explica.

Falando especificamente do encontro de quinta-feira, Irmã Laura disse que a temática que as trouxe para essa conversa, para esse diálogo com o Papa Francisco foi sobre a realidade sócio ambiental da Amazônia socioeducacional, e a realidade sócio pastoral, com uma ênfase para a missão da mulher na igreja e Ministérios para mulher na igreja.

Irmã Laura disse também que sobre o papel da mulher o Papa Francisco afirmou que não tem mais como voltar atrás na missão "que nós mulheres já desempenhamos na Igreja desde muito tempo. E a mulher é justamente esse rosto materno da Igreja: Maria a mãe de Jesus como essa mulher que está a serviço. E as mulheres na Igreja são justamente as que promovem as mudanças que promovem a evangelização, promovem o cuidado da vida, o cuidado da terra e o cuidado do direito. Então vamos avançar, sem fazer polarizações. Temos um bonito caminho pela frente", sublinhou a religiosa.

Irmã Laura acrescentou ainda que o Santo Padre as convidou para que continuem essa missão de ser uma Igreja em saída, uma igreja Samaritana, e que esteja nas periferias e ao cuidado da vida onde ela se encontra muito ameaçada.

A religiosa disse também que trouxeram ao Santo Padre, ao Vaticano, as vozes da Amazônia. Mas que vozes são essas, o que pedem essas vozes? "Elas pedem que avancemos para águas mais profundas e, pede também, que a Igreja tenha esse compromisso incondicional com a luta dos povos originários, com a luta dos povos amazônicos na defesa da nossa mãe terra, na defesa dos direitos e na defesa da vida. E nesse momento sobretudo no Brasil em que a gente vive uma situação de morte e vida com o julgamento do Marco temporal. A gente pede à Comunidade Internacional para que lute conosco para que de fato se defenda a Constituição Federal, se defenda os direitos que estão assegurados nos acordos internacionais e que assim tenhamos autonomia em nossos territórios e que todos os territórios possam ser demarcados", finaliza.

Caminhos de comunhão e novos caminhos

Este encontro, para elas e quem representam, é sinal de que se dá um passo significativo, incluindo mulheres e leigos rumo aos novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral nas comunidades eclesiais amazônicas.

Quem são essas mulheres

Laura Vicuña

 

Laura Vicuña Pereira Manso, indígena do povo Kariri, nasceu em Porto Velho, Rondônia. É filha de pais migrantes e vem de um significativo processo de autoafirmação de sua identidade indígena. Religiosa da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, é formada em antropologia, especialista em psicologia social e mestre em linguística indígena.

Atuou pastoralmente junto a diversas comunidades da Amazônia brasileira e peruana. Atualmente atua no Conselho Indigenista Missionário (CIMI), na defesa da Amazônia, dos seus povos e da casa comum, especialmente com o povo Karipuna. Participou do Sínodo da Amazônia em 2019 e é vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).

Esteve em diversos espaços da ONU em Nova York e Genebra, Fórum Permanente dos Povos Indígenas, para incidir diretamente e denunciar a violação dos direitos indígenas e da Amazônia.

Contribuiu com relatórios antropológicos para a identificação étnica e demarcação territorial dos povos Guarasugwe e Cassupá. Realizou estudo linguístico junto a sábios e avós indígenas das línguas Sabanê, Kwazá e Guarasugwe e publicou vários artigos sobre a Amazônia e o Serviço da Mulher na Amazônia.

Yesica Patiachi

Escritora, pesquisadora, pintora e educadora do povo Harakbut, Yesica Patiachi Tayori nasceu na comunidade indígena de San José del Karene, no Departamento de Madre de Dios, Peru.

Formada em Educação pelo Instituto Superior Pedagógico Público de Puerto Maldonado. Em 2015 o Ministério da Educação publicou seu livro "Relatos Orales Harakbut" e em 2019 "El gallinazo y el jaguar". Ambos são textos bilíngues, em harakbut e espanhol, sendo as primeiras publicações escritas nesta língua por uma mulher indígena do mesmo povo, e traduzidas para o espanhol por ela mesma.

Participou da elaboração de livros de trabalho em Harakbut para o Ministério da Educação para estudantes que falam esta língua. Esteve como especialista em Educação Intercultural Bilíngue (EIB) na Diretoria Regional de Educação do Departamento de Madre de Dios, e Coordenadora Regional de Qualidade da Gestão Escolar do Ministério da Educação.

Em janeiro de 2018, durante a visita do Papa Francisco à cidade de Puerto Maldonado, realizou o discurso, em nome dos povos indígenas, falando da dura realidade socioambiental que enfrenta a Amazônia e seus povos. Em outubro de 2019 participou ativamente do Sínodo Amazônico como auditora.

Atualmente trabalha como professora do ensino médio, em Puerto Maldonado, e é uma das vice-presidentes da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).

Patricia Gualinga e Yesica Patiachi

Patricia Gualinga Montalvo, do povo Kichwa de Sarayaku, na Amazônia equatoriana, é uma renomada defensora dos direitos humanos e da casa comum.

Ao longo de sua vida, Patricia se dedicou, seguindo o exemplo de seus pais e sábios, a proteger sua comunidade das violações de direitos humanos causadas principalmente pela exploração de petróleo e pela militarização.

Em 2012, foi testemunha perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos em um caso histórico apresentado em 2002 sobre os impactos da exploração de petróleo em sua comunidade, que terminou com a decisão do tribunal em favor do povo de Sarayaku.

Participante de vários espaços nacionais e internacionais de incidência, recebeu importantes reconhecimentos internacionais, incluindo em 2019, o Prêmio Brote Activismo Medioambiental, na Espanha; em outubro de 2021, o prêmio de coragem e liderança ALNOBA, nos EUA; em dezembro de 2021, o Prêmio Al Moumin de Direitos Humanos; e, recentemente, em 2022, o Prêmio Olof Palme de Direitos Humanos, por sua liderança na luta pela melhoria das condições de vida dos povos indígenas.

Atualmente, apoia e lidera o coletivo "Mulheres Amazônicas", dedicado à proteção do meio ambiente, dos povos indígenas, das mulheres e direito à terra. Participou ativamente do Sínodo da Amazônia, em 2019, e é uma das vice-presidentes da CEAMA - Conferência Eclesial da Amazônia.

(SGC)


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