Detectado um fortalecimento do discurso conservador e debate moral favorece Bolsonaro



 

O resultado do primeiro turno destas eleições mostram uma clara força do conservadorismo no Brasil. A onda conservadora que elegeu o presidente Jair Bolsonaro (PL) e diversos bolsonaristas em 2018 também impactou em 2022. No segundo turno, a pauta de costumes chegou com tudo, até mesmo na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Senado Federal parece ter sido o principal afetado pela onda conservadora em 2022. Bolsonaro conseguiu eleger ex-ministros, ex-secretários e o vice-presidente Hamilton Mourão para a câmara alta. Entre os eleitos está a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a pastora Damares Alves (Republicanos).

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Damares é uma das principais aglutinadoras da pauta conservadora nos costumes. A utilização de temas religiosos e morais é uma marca de sua atuação política e levanta polêmicas.

No último sábado (8), em um culto da igreja Assembleia de Deus em Goiânia (GO), Damares afirmou que crianças do arquipélago de Marajó (PA) são traficadas para o exterior para serem mutiladas e exploradas sexualmente. Ela disse ainda que "explodiu o número de estupros de recém-nascidos" e que no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) há imagens de crianças de 8 anos sendo estupradas. Com esse discurso, a senadora eleita tentou mobilizar os fiéis a se engajarem na campanha de Bolsonaro, alegando que os violadores de crianças queriam vê-lo fora do governo.

A ex-ministra, no entanto, não apresentou provas de suas declarações e não apontou o que foi feito no ministério para frear a exploração de menores. Isso fez com que o Ministério Público Federal (MPF) e a oposição se mobilizassem cobrando explicações da senadora eleita. Reportagem de O Globo aponta que os relatos levados por Damares ao culto são, na verdade, boatos difundidos desde 2010.

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Cabe destacar que há uma intensa disputa pelo voto evangélico entre Lula e Bolsonaro. O ex-presidente, inclusive, prepara uma carta ao povo evangélico para "tranquilizar" esse eleitorado diante da forte campanha contra ele — que inclui informações falsas — que tem sido feita por pastores alinhados ao atual mandatário.

Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil apontam que não é novidade a pauta de costumes tomando conta da eleição no Brasil, mas acreditam que com Jair Bolsonaro isso ganhou nova ênfase.

Para a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), "a pauta de costumes parece ter sido completamente revigorada nesta campanha justamente como um suposto confronto com a agenda do PT".

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A especialista acredita ainda que a campanha de Bolsonaro se utiliza da agenda de costumes para "encobrir o que é mais importante, que são justamente a pandemia [de COVID-19] e a economia, as consequências da pandemia e a economia no Brasil". "Essa pauta de costume é resgatada para, de alguma forma, tapar os problemas que [o governo] tem de fato e se contrapor à agenda do PT", aponta.

Para o cientista político Jorge Chaloub, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pauta de costumes sempre tem relevância em eleições, mas tem ganhado mais protagonismo no Brasil nos últimos 12 anos.

"O tema é uma constante e já foi central, por exemplo, na primeira eleição da Nova República, quando, em 1989, Fernando Collor utilizou, com fins eleitorais, a existência de uma filha adotiva de Lula. Há, todavia, um fortalecimento do tema após algumas eleições — como as de 1994, 1998, 2002 e 2006 — em que a economia ocupou o centro do palco. A utilização do tema do aborto, por Serra em 2010, e da maioridade penal, por Aécio em 2014, prenuncia isso, mas é claro que Bolsonaro leva a exploração das pautas morais a outro nível. Agora há uma defesa explícita da guerra contra o que vive diferente, do extermínio do inimigo que se define por ter outros padrões de moralidade", detalhou.

A partir dos resultados de 2022, o professor da UFRJ acredita que "há um fortalecimento do discurso conservador, não há dúvida".

(sputniknewsbrasil)



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