
"E, levando a sua cruzJesus
O rito, por meio do qual os fiéis reverenciam ou beijam uma imagem de Cristo crucificado colocada aos pés dos altares das igrejas, serve para relembrar a morte de Jesus nas mãos do Império Romano, e faz parte da liturgia católica há mais de 1,5 mil anos.
Mas o instrumento no qual o carpinteiro de Nazaré, nos arredores de Jerusalém, foi executado nem sempre foi objeto de veneração por seus seguidores, tampouco usado como símbolo cristão.
Nas catacumbas romanas, onde eles realizavam cultos escondidos da perseguição religiosa, não foram encontradas imagens de cruz, e as representações encontradas do messias mostram ele vivo, repartindo o pão na Última Ceia, ou já ressuscitado, mas nunca agonizando ou morto na cruz.
Segundo Cayetana Johnson, arqueóloga da Universidade Eclesiástica de San Dámaso, na Espanha, os primeiros cristãos não usavam a cruz como símbolo "por uma mistura de medo e vergonha".
"Para os judeus praticantes, entre os quais estavam os primeiros seguidores de Jesus, a crucificação era algo escandaloso", ela explica à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.
"Esta forma de execução era abominável, e uma verdadeira vergonha, tanto pela maneira como era realizada — porque os corpos dos prisioneiros tinham que ser completamente despidos e, uma vez mortos, eram jogados em uma vala comum —, mas também porque quem a executava era um governante estrangeiro", acrescenta.
"A cruz era sinônimo de morte retumbante", observa Johnson, lembrando que a prática não consistia apenas em pregar a pessoa em uma viga de madeira para sangrar e sufocar até a morte, um processo que podia levar horas ou até dias, mas que antes o prisioneiro era forçado a carregar o patibulum (barra transversal superior da cruz) até o local da execução.
E para evitar que fugissem, os prisioneiros eram acorrentados à viga de madeira.

A especialista lembrou que, devido à brutalidade e crueldade, a prática era reservada a inimigos do Estado e criminosos perigosos, e era usada como punição e advertência.
"Para os romanos, estava claro que exibir o crucificado era uma maneira de dizer à população conquistada: não se rebelem, não se revoltem, nem se oponham ao império", explica.
No século 1 a.C., após reprimir uma rebelião de escravos liderada por Espártaco, as forças romanas crucificaram cerca de 6 mil prisioneiros ao longo da Via Ápia, que levava a Roma, de acordo com o historiador Plutarco.
Mas esta forma cruel de execução não foi uma invenção romana — ela foi pega emprestada de outras culturas, como a assíria e persa, e aperfeiçoada.
