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Repórter pra que?

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ColunistaMontezuma Cruz

A repórter Kaitlan Collins, da CNN, cadeia de televisão americana especializada em jornalismo, perguntou ao presidente Donald Trump, ontem, sobre uma gravação na qual ele discute com seu ex-advogado Michael Cohen uma forma de pagar uma ex-modelo da revista Playboy, Karen McDougal, para ela manter silêncio sobre um suposto caso extraconjugal com Trump, em 2006.

Talvez o questionamento fosse inadequado à ocasião, durante a qual o presidente dos Estados Unidos discutiu questões comerciais com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington. Mas a jornalista suscitou a questão, que está na agenda do cotidiano, e cabia ao homem público respondê-la. Ao invés disso, os assessores do governo retiraram Kaitlan do local. Alegaram que ela “gritou questões para o presidente e se recusou a deixar a sala apesar de a organização ter pedido repetidamente”..

Felizmente foi uníssona a diversificada a reação ao evidente abuso de poder e violação à liberdade de imprensa. "Esta decisão de proibir um integrante da imprensa é retaliação por natureza e não é indicativa de uma imprensa aberta e livre", disse a CNN, alvo de frequentes reclamações feitas pelo homem mais poderoso do mundo. Trump diz que a CNN lhe dá tratamento injusto e lhe atribui falsidades.

A repulsa também veio de Olivier Knox, presidente da Associação de Correspondentes da Casa Branca: "Condenamos veementemente a decisão
equivocada e inadequada da Casa Branca de impedir um dos nossos membros de participar de um evento de imprensa aberto depois que ela fez perguntas que eles não gostaram", disse ele.

Mesmo a Fox News, que Trump costuma elogiar, expressou a sua  solidariedade à CNN “pelo direito ao acesso total de nossos jornalistas como parte de uma imprensa livre e irrestrita". E Kasie Hunt, de outra concorrente, a NBC, considerou que barrar a repórter da CNN é uma “ação tomada contra todos os jornalistas de TV que cobrem a Casa Branca”.

Ainda bem que houve essa unidade contra mais um avanço da truculência
de Trump.. Ele até pode manter seu ímpeto belicoso, mas vai esbarrar na imprensa americana.

E no Brasil: como os jornalistas e as empresas jornalísticas reagiriam?

Repórteres que fazem o mesmo tipo de pergunta (se é que ainda fazem) são considerados importunos e indesejáveis não só pelos potentados aos quais dirigem suas questões, mas pelos próprios colegas. É um tal de levantar a bola e atirar confetes sobre o entrevistado que constrange a quem ainda se lembra de um dos princípios básicos do jornalismo: investigar os detentores do poder para verificar se eles não estão abusando, exorbitando ou manipulando a sociedade.

Entrevistas coletivas não são o melhor meio de apurar a verdade.
Ninguém as convoca para declarar erros. É dever do repórter que delas
participa aproveitar a ocasião para defrontar a autoridade com as demandas de quem o colocou nessa posição e lhe paga o salário: o povo.
O compromisso do jornalista é com o seu leitor, não com o poderoso. Esse compromisso pode incomodar ou causar aborrecimentos, mas sem ele um jornalista se transforma em acólito, membro da corte – ou seu bobo.


Por Lúcio Flávio Pinto 
Fonte:Montezuma Cruz
 

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