O vento, a tempestade e as sementes.
Um filme sobre tempestade na madrugada. Essa que conhecemos como tornado, furacão, tromba d´água ou algo que o valha. E valeu uma reflexão. Tempestade tem origem no latim: tempestas,ãtis. Conforme a etmologia é algo como hora do dia, ou divisão do dia em bom tempo e mau tempo. Ganhou conotação de desastre natural porque no começo da civilização se vivia em acampamentos ao relento ou em habitações precárias.
Logo toda intempérie tinha, potencialmente, consequências desastrosas. E o termo tempestade passou a significar apenas um tempo muito ruim. Podemos aproveitar a etimologia para aprender um pouco mais para essa tal tempestade, que no sentido conotativo equivale a dificuldade, provação, infortúnio, desgraça. A etimologia pura nos ajuda a sair da arapuca cognitiva e nos chama para a autoresponsabilidade nua e crua: o que estamos fazemos do nosso tempo? Do livro do profeta Oseias temos “visto que semearam ventos, colherão tempestades”. É bíblico. É profesia. Não é fake.
Para sobrevivermos as tempestades da vida devemos fortificar a morada do corpo, da mente, do espírito. Quem sabe se abrigar num novo estilo de vida. Estaremos o tempo todo sendo testados pelas leis da natureza. Por isso se houver tempestade, por mais que pareça um desastre, ela sempre será natural. Decorrência de encadeamentos de eventos. Olha o vento aí, dentro da palavra. Isso é uma pista para entender que estivemos presentes nesses momentos em que a tempestade foi aos poucos sendo gerada pelas nossas ações ou pela nossa inércia.
Pouco acontece que não resulte do que fazemos ou deixamos de fazer. Se acaso não lembrarmos da nossa participação ou da nossa omissão nessa vida, quem sabe seja hora de avaliar a possibilidade de haver uma vida que continua através do tempo. Mas quase sempre essa falta de lembrança é mera distração. Para que o tempo seja bom ou mau teremos, por essa lei da natureza, que aperfeiçoa o universo de forma contínua e muitas vezes dolorosa, devemos prestar atenção no que temos feito no tempo de plantar. Fizemos o bem agora, para um ter um dia bom hoje e amanhã? Ou teremos deixado nos carregar, levianos, pelas más influências? O que deixamos cultivar em nossos pensamentos? Por acaso, ervas daninhas? Carregamos boas sementes ou carregamos pedras como o lixo da mágoa, do julgamento e do orgulho? O que fizemos com as boas sementes que sabemos existir e cada um de nós. Deixamos mofar em algum canto escuro do nosso ser para viver os vícios da preguiça, do medo e da luxúria? Nossa vaidade não nos permitiu arar a terra e deitar a boa semente, como um simples agricultor?
A avareza de quem economiza até um bom dia. A gula de quem quer mais do que precisa e por isso quer até o que é do outro. A inveja de quem pode até não querer para si, mas detesta que o outro tenha... Acaso essas são algumas de nossas sementes deixadas ao vento? A tempestade pode ser boa. Desde que possamos melhorar com ela. Desde que seja lição. Podemos escolher as sementes.
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