NO TRONO - Preso à cadeira de rodas, Pelé não quer ir à final da Libertadores
Conmebol ainda insiste. Mas, debilitado, aos 80 anos, melhor jogador da história não deseja ir ao Maracanã em cadeira de rodas
O Santos vence o Peñarol com o Pacaembu lotado.
Muricy Ramalho está olhando para seus jogadores, festejando. Quando é abraçado por trás. Toma um susto. E a pessoa o puxa, quer correr com ele pelo gramado. Dar uma volta olímpica para celebrar o tricampeonato da Libertadores.
"Quem é esse maluco?", pensou o treinador.
O susto ficou maior quando reconheceu quem estava vestindo um blazer vermelho, cor de sangue, camisa branca, calça, sapatos e gravata pretos.
Ele celebrava o tricampeonato do time do seu coração. Duas Libertadores ele ganhou em campo, em 1962 e 1963. A terceira, só torceu.
Muricy não pensou duas vezes. Correu, como um alucinado, com o maior jogador de futebol da história. A grande estrela que vestiu a camisa do Santos tinha 70 anos. E corria como um menino. Encarava os torcedores.
Obrigava o carrancudo Muricy a levantar seus braços. Mostrar a medalha de campeão, beijar o escudo do Santos.
Foi uma celebração inesquecível.
Pelé fora o convidado de honra da Conmebol.
Pelé e veteranos do Santos celebram o troféu da Libertadores. Em 2012
E vestia o blazer cor de sangue por um lucrativo acordo financeiro com o banco Santander.
Dez anos depois, muita coisa mudou.
Aos 80 anos, está preso a uma cadeira de rodas.
Por conta de duas cirurgias no quadril.
O peso do desgaste uma carreira longeva, 25 anos.
Com a medicina esportiva atrasada, gramados pesados, muitas vezes enlameados, chuteiras com travas presas com pregos, bola de couro, que encharcava.
Assim como o preparo físico sem princípios científicos.
Infiltrações de anestésicos que tiravam as dores, mas sabotavam as cartilagens.
Edson Arantes de Nascimento foi vencido pelo tempo.
Ele sabe que vive sua velhice.
E é muito orgulhoso, vaidoso da imagem que o mundo tem do maior jogador de todos os tempos.
Já não quis participar da abertura da Copa do Mundo.
No dia 17 de outubro de 2019, a Conmebol decidiu que a final única da Libertadores de 2020 seria no Maracanã. Copiando a Champions League. Independente dos clubes.
E desde aquela data, já tinha como meta ter Pelé como o grande anfitrião da decisão.
O convite foi feito.
Com um toque de sedução.
A Conmebol enviou a Pelé, para celebrar seu aniversário, outubro de 2020, uma réplica em tamanho natural, da Taça Libertadores.
Pelé e Rattin. Santos e Boca. 1963 |
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Homenagem para atiçar, fazê-lo se animar para estar no Maracanã.
Desde 2009, a Sports 10, detentora da imagem de Pelé, foi negociada com um grupo de investimento internacional. Tudo relacionado a ele, desde marketing, publicidade e, principalmente, aparições públicas é decidido por esse grupo.
No início foi tudo excelente.
Mas as duas cirurgias no quadril, para tentar terminar com o problema de artose, em 2012 e 2016, mudaram radicalmente as circunstâncias.
Primeiro, não pôde participar das cerimônias das aberturas da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Ambas no Brasil.
Foi para o sorteio dos grupos da Copa da Rússia, em 2017.
Sua imagem, preso na cadeira de rodas, chocou o mundo.
O Atleta do Século perdera a habilidade de se movimentar pelas próprias pernas.
Pelé não melhorou desde então.
O filho Edinho deixou escapar que seu pai estava com depressão por conta da dificuldade em ficar em pé, se locomover.
Além da cadeira de rodas, usa um andador.
No início deste ano, revoltado, Pelé teria até abandonado as sessões de fisioterapia que se submete.
Pelé está lúcido.
E muito preocupado com a Covid-19.
É a imagem do jogador espetacular que Pelé deseja preservar. Por isso, está recluso
O sonho do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, era que Pelé levasse a taça até o meio do gramado do Maracanã, no sábado.
Tem a plena convicção da idolatria do brasileiro.
Até hoje.
Capaz de ter 5,6 milhões de seguidores no Instagram.
E cerca 30% dessa multidão, com menos de 18 anos.
Mesmo encerrando a carreira há 44 anos.
Mas sabendo que Pelé segue preso na cadeira de rodas e recluso, o paraguaio Domínguez pediu que Santos e Palmeiras indicassem dois ídolos para levarem a taça ao gramado.
Os escolhidos foram Pepe e Evair.
A esperança era que Pelé aceitasse estar ao menos na final.
Nas tribunas.
Patrocinadores da competição entrariam em acordo financeiro com a Sports 10, se fosse o caso.
Mas, até agora, a três dias da final, a decisão é que Pelé não irá ao Maracanã.
Talvez tenha uma participação virtual.
Talvez.
É muito difícil, mas é possível uma reviravolta.
Dependeria apenas de Pelé.
Se ele aceitasse se mostrar de novo ao mundo em uma cadeira de rodas.
Por enquanto, a resposta é não.
Mesmo assim, a Conmebol e o Santos deverão homenagear o ídolo.
Com imagens no telão do Maracanã.
Do auge do maior jogador de futebol de todos os tempos.
Como ele quer ser lembrado.
Pelé, preso à cadeira de rodas, recebe beijo de Maradona, em 2017. Imagem que incomoda
Por seus dribles inacreditáveis, suas arrancadas sensacionais.
Pelos 1.283 gols.
Pelas três Copas do Mundo.
Duas Libertadores e dois Mundiais com o Santos.
Com seu sorriso largo, levantando uma taça.
Não como um senhor idoso.
Preso a uma cadeira de rodas...
(R7)
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