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Tolerância com o roubo

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ColunistaValdemir Caldas

Tornou-se lugar comum, no Brasil de hoje, admitir que, se o dirigente público meter as mãos sujas no erário, ao invés de merecer castigo, deve ele ser endeusado, tolerado ou, o que é pior, imitado. Somente assim pode ser compreendida as frases ditas por dois renomados advogados sobre o ex-presidente Lula, durante jantar em homenagem ao petista, em dezembro do ano passado.

Na ocasião, Lula foi presenteando com uma beca e, de quebra, ouviu do advogado Alberto Toron que o ex-presidiário era “o símbolo mais elevado da justiça”, porém, o que deve ter deixado muita gente embasbacada mesmo foi a pérola soltada pelo advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Ao refere-se à operação Lava-Jato, considerada uma das maiores iniciativas de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história recente do Brasil, que mandou para cadeia muitos figurões, entre eles Lula, Mariz disse: “Se o crime já aconteceu, de que adianta punir? Que se puna, mas que não se ache que a punição irá combater a corrupção.”

Quer declaração maior de incentivo à corrupção do que essa? No passado já tivemos “o rouba, mas faz”. Agora, criou-se a concepção de que é melhor deixar em paz os que roubam o dinheiro público, porque a punição em si não serve como medida pedagógica para disciplinar os que delinquem e, assim, vamos incorporando à ética (?) dos brasileiros o conceito de que “se eu não roubar, vem outro e rouba”. Isso tem justificado o aparecimento de muitas bandalheiras.

Não sei por que muita gente, inclusive até com certo grau de conhecimento, insiste em não aceitar a realidade. O que aconteceu com a Petrobras não foi obra de ficção, mas o maior esquema de corrupção da história mundial, um crime devidamente planejado que desviou cerca quarenta e dois bilhões dos reais dos cofres da estatal, dos quais menos de seis bilhões foram recuperados até hoje. Isso é fato! Isso é real! Não é conto de fadas! Os ladrões do dinheiro público precisam ser punidos. Não podemos ser tolerantes com a imoralidade, que, antes de qualquer coisa, revela cumplicidade.

Todo dinheiro roubado ou desviado por políticos deve ser devolvido aos cofres público e seus autores, uma vez comprovado o crime, presos, e não tratados como símbolos da justiça e da moralidade pública, porque isso é uma afronta à dignidade da pessoa humana. Chega de achar que todo mundo é idiota, que não sabe discernir o logro da verdade, a esperteza da inteligência e a capacidade do servilismo.  

(*) Por Valdemir Caldas


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