O petróleo nunca foi nosso

De alguns economistas respeitados tenho ouvido afirmações de que a redução estatal na economia constitui uma necessidade, imposta pelas condições prevalecentes no mundo de hoje. Quando o assunto é Petrobrás, a grande maioria reconhece a imperiosa e urgente necessidade de o governo entregar o comando da estadual à iniciativa privada, apesar de algumas vozes discordantes e minguantes, reduzidas a grupos ideológicos empedernidos, incapazes de se libertarem de seus mitos e preconceitos, insistirem na tese estapafúrdia de que o Estado é o grande Leviatã, uma espécie de pai de todos.
Atualmente, ninguém que pretenda ser levado a sério debate mais se a privatização é necessária, mas apenas o que e como proceder. É claro que as coisas precisam ser feitas com transparência e seriedade, e não de maneira atabalhoada, sem nenhum critério, de qualquer jeito. É isso que precisa ser discutido. Não é justo, porém, entregar o patrimônio público a preço de banana podre. Aliás, no Brasil, com as devidas exceções, o patrimônio público deixou de pertencer à coletividade, administrado zelosamente em benefício de todos, para transformar-se numa coisa sem dono, onde todo mundo mete a mão, a casa da mãe Joana, malversada em proveito de políticos corruptos, em conluio com burocratas e empresários desonestos.
Há muito tempo, no Brasil, o aparelho estatal deixou de ser regido pelos princípios da legalidade e da moralidade pública, essenciais na correta aplicação dos recursos, sem os quais estão abertos os caminhos para o espraiamento de todo tipo de bandalheira e desperdício. Muita gente provavelmente não se recorda, mas, há vinte anos, ter uma linha de telefone era artigo de luxo, somente acessível a uns poucos. Com a privatização da telefonia brasileira, hoje, são milhões de brasileiros, que têm linhas fixas e móveis. Esse negócio de que o petróleo é nosso faz parte de um movimento nacionalista que teve sua origem nos idos dos anos quarenta, devidamente sepultado pelo tempo.
Por Valdemir Caldas
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