Zona Leste exige respeito
Depois de morar em Ariquemes, onde cheguei no final dos anos 70 e início dos 80, quando a maior parte da cidade ainda era floresta, domicílio de onças, capivaras, macacos, tatus, pacas e outros bichos, a melhor morada, para mim, é a da Rua Antônio de Sousa, no Bairro JK II, na Zona Leste de Porto Velho onde vivo hoje.
Em Ariquemes, os moradores da 5ª Rua construíam um ambiente de colaboração e amizades sem fronteiras. Se alguém arranjava uma carne, dividia o churrasco com os vizinhos. Até um mocotó de antas virava iguaria compartilhada. Éramos companheiros e até amigos, perseguindo sonhos.
A casa do vizinho Luiz Augusto de Oliveira, logo após a de João Leite, que já tinha sido do Pacheco e dona Vera, era o ponto de encontro domingueiro. A todos provocava com o cheiro da fumaça de carne assada no ar. Contador de estórias e crítico mordaz de políticos, formava roda de boa prosa e risada garantida. Tempos duros, mas dos mais felizes que vivi.
Nos últimos dez anos, após cruas lições da vida, vim morar numa casinha humilde de uma pequena rua de chão no Bairro JK II. Recomeçando tudo de novo na Zona Leste, de tanta má fama.
Mas que surpresa! Neste lugar simples e de pessoas humildes, encontrei um ambiente pacífico e camarada parecido com o da 5ª Rua do Setor 1 de Ariquemes.
Nesses dez anos de JK II vi o bairro crescer com a cidade. Hoje tenho tudo pertinho de casa. Restaurantes de peixes, carnes, comidas caseiras, churrascaria e uma profusão de lanchonetes e lanches de rua. Farmácia, posto de gasolina, supermercados, mercadinhos, barzinhos, pets, borracharia, materiais de construção, dentistas, frutarias, padarias, lavadores de carro, oficinas de quase tudo, num raio de 300 metros.
E em 500 metros, tenho a Rua Amador dos Reis, com bancos, igrejas, santuários e um comércio forte, dinâmico, com uma profusão de lojas de tudo. É um polo comercial maior que o da Sete de Setembro, no centro antigo da Capital. A Lojas Americanas acaba de se instalar na Amador.
E a Região ainda tem vários pequenos centros comerciais em pleno desenvolvimento.
A Zona Leste tem a maior concentração de bairros da cidade e mais de 200 mil habitantes. É o maior colégio eleitoral da Capital.
Mas onde tem mais gente, tem mais conflitos. Por isso, o noticiário policial dá a impressão de que aqui só tem bandido. Trata-se de uma visão errada e até ofensiva. A Zona Leste exige respeito!
Esta percepção torta se dá porque só se mostra fatos negativos da Região. Se omite as ações positivas das pessoas, das empresas e das representações da sociedade. Os governos devem muitíssimo e têm sua parcela de culpa com a imagem da Zona Leste.
Aqui predomina a classe trabalhadora. Gente simples, como meus vizinhos. Gente que senta na calçada no final do dia e se cumprimenta pelo nome. Que se reúne nos fins de semana em almoços coletivos e festejam juntos as datas importantes de cada um.
Gente que cede água do seu poço para o que paga a Caerd e recebe o produto. Pessoas solidarias em um mundo tão egoísta. Gente humilde, como a canção de Ângela Maria.
Além de tudo isto, morar na Zona Leste é morar no centro geográfico da cidade. Você não acredita? Então preste atenção: da minha casa até a Praça Madeira Mamoré, no Rio Madeira, são 6 quilômetros. Até o Bairro Ulisses Guimarães, no fim da Zona Leste, dá 6 quilômetros. E até Caladinho, na Zona Sul, do outro lado da BR-364, também dá 6 quilômetros.
Viu onde fica o centro da cidade de Porto Velho?
OsmarSilva – Jornalista – Presidente da Associação de Imprensa de Rondônia-AIRON – sr.osmarsilva@gmail.com
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