SOBRINHO e GUEDES – Inocência e culpa

ColunistaOsmar Silva

O fato, com repercussão política mais relevante da semana passada em Porto velho, foi a notícia da decisão da justiça inocentando o ex-prefeito petista Roberto Sobrinho, de todos os crimes que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, lhe haviam imputado em duas operações especiais no decorrer do seu segundo mandato na Capital.

Convenhamos se tratar de uma vitória relevante, de Roberto e sua defesa, em somente oito anos de demanda. Se comparado com o ex-prefeito José Guedes, também da Capital, denunciado e expelido do Palácio Tancredo Neves, foi um ‘passeio’ jurídico. Guedes levou décadas para ver seu nome restabelecido pela comprovação de sua inocência.

Ambos sofreram as ‘penas do Diabo’. Embora tenham sido prefeitos ativos e produtivos, cada um ao seu tempo e circunstância, foram execrados, humilhados, apontados como ladrões, expurgados da vida social e excluídos dos direitos políticos que todo e qualquer cidadão tem.

Para o político, ver chegar um pleito eleitoral e não poder participar dele, é a morte. Eles viveram isso. Foram totalmente desprezados. Até pelos os que os rodeavam. Perderam vínculos pessoais e empregatícios. O inferno de Dante, enfim.

Mas aqui acabam as convergências do destino dos dois. O Tempo não voltará para reparar os danos causados, pelos braços da própria justiça, nem reparará os ferimentos da alma. No máximo, se buscarem, obterão sentença indenizatória a ser paga pelo o estado. Ou seja, por nós, com nossos impostos, que não temos nada a ver com o fato. Ainda assim, verão a reparação ser convertida em precatórios, com plena possibilidade de ficar para os seus descendentes. Essa é a verdade.

Nunca levantei, mas tenho a percepção de que ainda existem outros processos acusatórios rolando na justiça contra Roberto Sobrinho. Me parece que ele ganhou importantes batalhas. Mas faltam as lutas finais para ganhar a guerra.

Entretanto, mesmo que venha a ser vitorioso plenamente no campo judicial, o ex-prefeito ainda carregará o peso moral da sua conduta no comando da prefeitura de Porto Velho. Pelo o que fez e pelo que deixou de fazer.

Lembremos quantas obras do programa Minha Casa Minha Vida ficaram, tão embaraçadas, que até hoje assombram quem passa pela frente. Moradias se acabando pela erosão do tempo sem que ninguém lhes desate os nós e nelas habite.

Recordemos dos volumosos recursos que ficaram nas contas municipais e retornaram para o Tesouro Nacional, pela incapacidade do gestor para aplica-las em projetos de resgate da saúde e cidadania das pessoas. E da imagem e dignidade da cidade.

Para recordar, citemos algumas: R$ 600 milhões para saneamento básico que nos tiraria da merda em que vivemos mergulhados nos canais a céu aberto; o quanto se gastou e se perdeu na reforma do complexo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que as águas e os ratos levaram a obra inconclusa; o Parque da Águas, que transformaria os bairros do Cai N’água, Mocambo e Areal numa Veneza Amazônica, cujo dinheiro ficou na conta, algo em torno de R$ 100 milhões, até ser devolvido, ao governo federal, sem que o projeto sequer fosse licitado; e os recursos, também em torno de R$ 100 milhões de compensação das usinas de Santo Antônio e Jirau. O município deixou de ter, pelo menos, uma rodoviária e um hospital municipal decente para sua gente.

Estes atos de omissão, scausaram atraso e enormes prejuízos no desenvolvimento da cidade e ainda causam tanto danos à saúde e à vida das pessoas.

Destas perdas, em dignidade e autoestima dos cidadãos portovelhenses, não há como inocentá-lo, perdoa-lo. Até hoje, as pessoas morrem de doenças advindas dos canais transformados em fossas que entrecortam toda a cidade. Os bairros ribeirinhos perderam a oportunidade serem cartões postais de civilidade. E a Madeira Mamoré, mais uma vez, está sendo revitalizada para resgatar um pouco da história e do orgulho da cidade.

O advogado Caetano Neto publicou em um vídeo, manifestação demonstrando uma visão alinhada com o que acabamos de expor. Convido o leitor o vê-lo. E com ele encerro estas considerações.

Osmar Silva – jornalista diretor e editor do noticiastudoaqui.com – Presidente da Associação de Imprensa de Rondônia (Airom) e da Federação Nacional dos Comunicadores Seccional Rondônia (Fenacom).

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