Envolta em mistério e temor, Boiúna não é apenas uma figura do folclore regional — ela é um símbolo das forças da floresta e das águas, representando o desconhecido, o sagrado e o perigoso.
Nas profundezas sombrias dos rios, lagos e igarapés da Amazônia, reza a lenda que habita uma criatura mítica de poder assombroso: a Boiúna, também conhecida como Cobra Grande. Envolta em mistério e temor, essa cobra colossal não é apenas uma figura do folclore regional — ela é um símbolo das forças ocultas da floresta e das águas, representando o desconhecido, o sagrado e o perigoso.
A morada da Boiúna é chamada de boiaçuquara, a “casa da cobra grande”. Ela é descrita como um ser de corpo escuro, com escamas tão brilhantes que refletem o luar, serpenteia silenciosamente sob as águas profundas. Seus olhos irradiam uma luz forte e hipnótica, confundindo pescadores e viajantes, que a confundem com embarcações iluminadas. Quando se aproximam, descobrem — tarde demais — que estão diante de um monstro faminto.
Como se não bastasse sua forma assustadora, conta a lenda que Boiúna é capaz de se transformar em navios, canoas, vapores e até cachoeiras para enganar suas vítimas. Seu deslocamento provoca ondas e redemoinhos tão poderosos que o som lembra o motor de uma embarcação a vapor, criando pânico entre os navegantes mais experientes.
Mas a lenda da Boiúna vai além da criatura monstruosa. Em uma das histórias mais contadas entre os povos amazônicos, ela aparece como uma figura divina ligada à criação da noite. Se diz que, ao casar sua filha, presenteou-a com a noite guardada dentro de um caroço de tucumã. Porém, os portadores do presente, movidos pela curiosidade, abriram o caroço antes da hora, libertando a escuridão no mundo e sendo castigados por isso.
Outra narrativa fala sobre a união de uma indígena com a Cobra Grande, da qual nasceram duas crianças-cobras gêmeas: Honorato (ou Nonato) e Maria. Lançados ao rio pela mãe, sobreviveram como serpentes gigantes. Honorato era bondoso, mas Maria, cruel, espalhava o terror entre animais e humanos. A maldade da irmã foi tamanha que Honorato, apesar do laço fraterno, foi obrigado a destruí-la.
Reza a lenda ainda que Honorato, em noites de luar, recuperava a forma humana, vivendo como um belo rapaz entre os mortais. Para libertá-lo definitivamente do feitiço, seria necessário que alguém derramasse leite em sua boca e ferisse sua cabeça até sair sangue — um ato de coragem que ninguém ousava tentar. Até que, um dia, um soldado de Cametá, no Pará, realizou o ritual, libertando Honorato da maldição e permitindo que ele vivesse como homem entre sua família.
Na crença popular, a Boiúna habita algumas cidades da região amazônica. Em Parintins (AM), por exemplo, de acordo com a lenda, a Cobra Grande está adormecida há milênios nas profundezas da cidade, e o seu despertar faria com que Parintins afundasse. Em Itacoatiara (AM), a lenda remonta aos tempos dos colonizadores, quando estes trouxeram a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Serpa. “Serpa” significa serpente.
E em Belém (PA), a versão da lenda conta que a cobra vive adormecida sob a cidade, entre os bairros da Cidade Velha e Nazaré, onde a cabeça do animal estaria na Catedral da Sé, e seu corpo terminaria na Basílica de Nazaré. A lenda afirma que, caso a Cobra Grande acorde, a capital paraense afundaria no rio. Alguns moradores mais antigos acreditam que ela já se moveu algumas vezes, ocasionando tremores de terra. Há ainda quem relacione o despertar da Cobra Grande à interrupção do Círio de Nazaré.
Já em Mato Grosso, a lenda ganha outra versão, tornando-se a lenda do minhocão, um ser temido por pescadores que acreditavam que ele morava nas profundezas do Rio Cuiabá. A lenda teria surgido após o padre Ernesto Barreto comprar um terreno, em 1880, onde hoje está localizada a Barra do Pari, em Cuiabá.
Moradores de bairros tradicionais com o Santa Amália ou o Araçá, ainda contam que o Minhocão do Pari só desapareceu da região quando houve uma grande enchente, em 1974. Aos que acreditam na lenda, após a enchente, o minhocão ficou preso debaixo da igreja matriz da capital de Mato Grosso pelos fios de cabelo de Nossa Senhora. Por isso, é proibido reformar ou restaurar a igreja, para não libertá-lo.
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