Quanto vale, vale?
Quanto vale uma vida? Duas, três, quatro?... Quanto vale 19 vidas?... Quanto vale?
Conforme a contagem dos corpos, da tragédia causada pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho aumenta, junto com a dor e a angústia dos familiares, mais aumenta a sensação de desesperança de quem atentou para um detalhe: essas perguntas nunca foram respondidas satisfatoriamente no passado, quando foi Mariana a chorar seus mortos. Quando foi a Barragem do Fundão a se romper e a provocar uma avalanche de lama tóxica de 55 milhões de metros cúbicos.
A onda de rejeitos matou 19 pessoas em 2015, e seguiu pelo leito do Rio Doce envenenando e destruindo todo um ecossistema, que pode nunca mais se recuperar. Quanto vale a vida?
Será que essa pergunta está sendo respondida agora?
100 mil de doação espontânea? Deixaram claro que não é indenização, a indenização virá depois. Será? Vale lembrar que as multas da tragédia de Mariana não foram pagas, as indenizações não foram pagas. Quem garante que essa ajuda, dita humanitária, não será tudo que essas famílias terão antes de uma grande espera na justiça? Justiça que sempre tarda e, não raro, falha. Não fosse assim, não alimentaria essa eterna sensação de impunidade que faz com que crimes sejam convenientemente chamados de tragédias.
Tragédia anunciada é crime. Tragédia que se repete porque não há justa reparação dos danos, não há punição exemplar e não se aprimoram processos é um crime maior. A contagem dos mortos não deixa dúvida.
Alguns engenheiros foram presos, provisoriamente. Mas será que todos os responsáveis por esse crime de descaso com o meio ambiente e com a vida humana que, muito a priori, foi chamado de genocídio por um pai que perdeu o filho na tragédia, serão presos? Os altos executivos, negligentes com as normas de segurança, serão presos?
Os que fazendo da política, um balcão de negócio, fazem paralisar qualquer pauta que represente avanços para evitar mais devastação e dor, serão presos? O sistema judiciário, tão emperrado e insensível ao sofrimento dos simples mortais, vai oferecer um de seus pares ao sacrifício? Algum juiz será preso e julgado?
Nós, que votamos em políticos sem o mínimo compromisso com a sustentabilidade seremos presos? Sem se colocar no lugar do outro não dá para saber o valor de uma vida. Quanto custa viver sem o abraço de uma filha, de um pai?
O valor da vida não pode ser avaliado pelo sobe e desce da bolsa de valores. Pelo perde e ganha dos acionistas. Só quem poderia avaliar o valor da vida é quem a perdeu. Quanto vale os sonhos que nunca serão realizados? As paixões que não serão vividas? A contagem dos mortos não para.
Só quem enterrou uma pessoa da família ou espera que mais um corpo seja resgatado da lama dos rejeitos para prestar a última homenagem, sabe o valor que tem esse último e doloroso gesto de amor. Quanto vale uma vida?
Não, não dá para avaliar o custo de viver com alma soterrada.
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